Hoje a inspiração não é muita, mas sinto a necessidade de mais uma vez partilhar as coincidências que surgem na minha vida. Desta feita, tudo tem a ver com a tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama.
Ontem, ao final da tarde, chego a casa, ligo a televisão (agora que já voltei a ter sinal de TV Cabo…) e fico deslumbrada com a cerimónia da tomada de posse do presidente: adorei a sua expressão facial que me revelava uma serenidade total que eu só conseguiria aparentar se fosse fortemente medicada, gostei do sorriso de felicidade da sua esposa, impressionei-me com a resistência dos americanos ao frio extremo de Washington e até me senti vibrar com “besta” presidencial.
Eu também festejei, mas só que à minha maneira - fui ao teatro ver “O Presidente” da autoria de Thomas Bernhard e levada a palco pela ACTA (A Companhia de Teatro do Algarve). Parecia não haver peça mais adequada ao dia de ontem: um presidente de um país cujos membros de estado são alvos de atentados por parte dos anarquistas, que tem uma esposa influente e um cachorro ternurento.
À medida que a representação vai decorrendo compreendemos que a primeira-dama afinal é uma mulher prepotente, mal amada e que despreza tudo e todos. O Presidente também não é melhor e até o cão é um fracote que morre de colapso cardíaco. A primeira-dama tem amantes e o Presidente não lhe fica atrás. Minuto após minuto, a acção lá se vai desenrolando e aquele Presidente que está ali à nossa frente não melhora. Claro que observando mais detalhadamente lá se vê que a pele das personagens faz contraste absoluto com o negro das suas roupas e por isso de Obama nem vestígios, o que me tranquiliza profundamente.
Volto a deixar-me levar pela magnífica interpretação dos actores, pelo ritmo da linguagem falada e sobretudo pela ironia do texto. Recomendo vivamente!