Perdição rima com amar até mais não;
Eram só ideias que não me saíam da mente – Mais não!
Pára de me tocar assim
Com os sabores do jantar afrodisíaco…
Afro ou Dionísio
A questão não é a raça
É a beleza do ser
E o que interessa é a graça.
Graça? Qual graça? Isto é uma completa desgraça!
É verdade, até sou engraçada…
E depois? E depois, uma vagina quente e molhada!
(Autoria: JG, Veruska, JV, CL, LC, JA)
Depois de passado um ano sobre a última vez, mais três casais (sem qualquer ligação entre eles, excepto a amizade que os unia) juntaram-se numa casa fechada e sem testemunhas, com o pretexto de mais uma vez celebrar o Dia de São Valentim.
À hora marcada lá foram chegando os convidados (registe-se aqui o facto de alguns terem recebido chamadas dos seus pais em jeito de despedida e esperando que fosse desta vez que os seus filhos/as se envolvessem romanticamente com alguém) todos muito elegantes e chiques acompanhados pela garrafa de vinho necessária à festa e os textos que seriam usados na desgarrada poética.
A comida de tão afrodisíaca que era, despertava na anfitriã algum temor pela forma como poderia acabar tal convívio; conjugar numa mesma noite efeitos tão díspares como aumento da frequência cardíaca, irritação dos órgãos genitais e aumento da testosterona poderia levar a situações não desejadas…
Mesmo antes da desgarrada de poesia e já sob o efeito de algum do vinho que corria a rodos, formou-se logo ali um colectivo de autores que arriscou na escrita de um poema que de alguma forma transparecesse o que se vivia nessa noite. Da qualidade dos versos escritos pouco se pode dizer tal é a sua riqueza de vocabulário, arrojo, métrica e recursos estilísticos, que revelam desde início uma total alheação por parte dos autores de tudo o que se passava na casa.
Depois desta ousadia, rapidamente o colectivo de autores se transformou num conjunto de declamadores evidenciando-se o estilo de cada um através do que liam e como liam: a “menina de Cascais” leu um poema casto e pouco ordinário de José Régio, os que possuíam veia artística preferiram Bertolt Brecht, a erudita leu amiúde textos de vários autores desde Bocage a António Boto, a mestranda em literatura comparada leu três textos muito actuais sobre o cortejamento (de Ovídio), a noite de núpcias (de Miguel Sousa Tavares in Rio das Flores) e o adultério (também de Miguel Sousa Tavares in Equador) e o beato, fã de procissões e de bivalves preferiu alguns autores brasileiros que embora brejeiros, revelavam uma profundidade de sentimentos difícil de expressar.
A noite terminou já quase de manhã com a sensação de missão cumprida!