Sempre achei curioso como factos aparentemente desconexos podem estar na origem de fenómenos semelhantes. No auge deste blog, deparei-me por diversas vezes com esta causalidade que mais parecia casualidade alimentando a minha necessidade contínua em imaginar estórias absurdas.
Algumas das vezes transcrevi-as para o word (abomino escrever em papel), outras verbalizei-as durante monólogos repletos de plateia e outras ainda foram esquecidas para sempre. Ontem, ao longo de uma demorada caminhada por entre flamingos, patos e espelhos de água repletos de reflexos mais uma vez refleti sobre o que poderia ligar Sixto Rodriguez (cantor) a Hafid (ladrão de i-phone).
Sixto Rodriguez é só a minha mais recente paixão musical. Músico comparado por especialistas a Bob Dylan e segundo algum deles, muito melhor do que este último, não conseguiu o tão almejado sucesso. Lança dois álbuns no início da década de 70, mas devido a causas que não se conseguem descortinar, a fama nunca chegou, e Rodriguez acaba por voltar à sua profissão original de trabalhador não qualificado na construção civil.
Mais ou menos por essa altura, e também sem se saber muito bem como, os discos de Rodriguez atingem um sucesso estrondoso na África do Sul, embora nem o próprio nem os produtores/editores tenham conhecimento deste fenómeno. Vivia-se em plena época do apartheid e pelos vistos as letras das canções como Sugar Man ou Cold Fact incitavam à liberdade e atiravam para a sarjeta ideias de segregação.
Só muitas décadas depois e quase a entrar no novo milénio é que se dá de caras com o próprio Sixto Rodrigez, homem humilde, interventivo na comunidade, doutorado em filosofia e algo esquivo (isto na minha modesta opinião e apenas baseada no documentário Searching for Sugar Man). Foi difícil encontra-lo. O senhor não construiu a sua vida nas redes sociais, não aparecia nas revistas… não era uma celebridade. A partir do momento que é redescoberto, primeiro a África do Sul e depois o resto do mundo querem-no.
Já Hafid é apenas um moço do Dubai que o ano passado decidiu roubar um i-phone em Ibiza durante uma noite, quiçá estrelada. Dos seus dados pessoais sabemos pouco e nem sequer conseguimos descortinar se gostará de cantar ou escrever poesia. Sabemos sim, que gosta muito de tirar fotografias com o seu i-phone roubado. Fotografias sozinho, acompanhado pelos amigos; de chinelos, de calças de ganga, etc, etc. Também sabemos que ele é burro que nem uma porta e nem de tecnologia deve perceber. O seu telemóvel está sincronizado com o Dropbox da legítima dona, que por essa razão recebe todas as fotos que com ele são tiradas.
E é aqui mesmo que reside o ponto de contacto entre Rodriguez e Hafid – a sincronização. Ambos são alvo de uma simultaneidade de acontecimentos embora a velocidades diferentes. Para Rodrigez, esse sincronismo foi muito lento, demorando décadas até que a sua obra fosse reconhecida estando agora a recuperar todo o tempo perdido à laia de herói incompreendido de quem corria o boato de que se teria suicidado em palco. Já para o mocinho do Dubai, a sua história é divulgada quase em tempo real e ele é já um anti-herói – classificação que lhe assenta como uma luva.
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