Numa viagem a outro continente, a países de que pouco se conhece (pelo menos eu desconhecia), o que seleccionar como os aspectos mais relevantes? É precisamente essa a questão que coloco neste momento. A menos de 24 horas do regresso a Portugal, já contei tudo o que se passou à minha família, já descarreguei as fotografias para o computador, já mostrei tudo o que comprei à minha mãe…e mesmo assim não sei por onde começar, ou mesmo o que devo contar!
Como a dificuldade que sinto é enorme acho que me devo centrar nos três pensamentos recorrentes que foram surgindo à medida que os dias iam passando e que podem muito bem servir de base a toda a descrição.
Pensamento I – Buenos Aires é melhor que Nova Iorque!
Embora não saiba porquê, adoro cidades, de preferência cidades grandes com muitos prédios também eles grandes e muitas pessoas a caminhar nas ruas. A minha viagem a Nova Iorque foi inesquecível e talvez por isso ainda fiquei a gostar mais de grandes metrópoles. Esta era para mim “A Cidade”, logo a seguir a Londres e quem sabe a Tóquio (onde ainda não fui). Nunca pensei que Buenos Aires pudesse algum dia vir a encabeçar esta lista (aqui assumo a minha ignorância sobre a América do Sul, continente que associo de imediato ao Brasil, local que não me seduz absolutamente nada). Pois, Buenos Aires é absolutamente fabulosa: a arquitectura é impossível de descrever, a vida da cidade também é impossível de descrever, a hospitalidade dos argentinos é infinita e a sedução que a cidade exerce sobre as pessoas que por ela caminham é viciante.
Gostei de tudo (dos argentinos, das refeições de luxo a preços muito baixos, do museu MALBA…) mas tenho de eleger como mais marcante o Tango. Pouco tempo antes de partir para a Argentina descobri a música de Astor Piazzolla e partir daí fiquei completamente viciada naquela melodia melancólica que me levou a dar a maior das importâncias a um instrumento que para mim era secundário e a que associava a formas de arte menores (se é que isso existe) – a concertina. Depois comecei a perceber o que era isso do Tango, e da forma como era dançado e fiquei apaixonada! Tudo isto aumentava ainda mais a minha expectativa em relação a Buenos Aires e tinha mesmo como o principal objectivo da viagem fazer coisas relacionadas com o Tango: ver espectáculos, ouvi-lo e até mesmo dançá-lo. Os objectivos foram em muito alcançados:
- vi três espectáculos de Tango (o turístico que não prestou, excepto a interpretação do Piazzolla; o genuíno protagonizado por aquilo que pareciam ser amadores ou semi-professionais em final de carreira; o profissional estilo “La Féria” que foi muito bom);
- fiz uma aula de tango em que dancei com vários dançarinos desde os que pouco sabiam até aos muito bons (sou obrigada a salientar um deles – o cinquentão, de ar sedutor com olho azuis e cabelo grisalho – que fez com que dançasse como jamais imaginaria que fosse possível);
- dancei num dos locais mais tradicionais de Buenos Aires – a Confiteria Ideal – e apesar de não ter suscitado muitos convites por parte dos cavalheiros presentes na sala, dançar naquela pista de dança foi uma experiência que jamais esquecerei.
Pensamento II – A Patagónia é melhor que a Suíça!
A entrada na Patagónia deu-se pelo lado argentino, e ocorreu na cidade de Bariloche situada junto à cordilheira dos Andes. Para mim tudo foi novidade: a temperatura atmosférica, a neve (acho que vai ser agora que me vou render aos desportos de inverno…), o lago gigantesco rodeados por montanhas cobertas de neve e…surpresa das surpresas…o CHOCOLATE! Por incrível que pareça, a especialidade de Bariloche é o fabrico artesanal de chocolate. As lojas são inúmeras e a hospitalidade tão característica dos argentinos impelem-nos a aceitar todo o chocolate que nos oferecem a provar – os bombons de chocolate branco recheados com pasta de framboesa, o chocolate de leite em rama, o chocolate branco com sabor a pimentão, as framboesas frescas cobertas com uma camada fina de chocolate branco e outra de chocolate de leite…Posso dizer, apesar de me sentir um pouco envergonhada com isso, “Eu tomei uma overdose de chocolate!”
Também foi a partir desta cidade que iniciei a travessia da Cordilheira dos Andes, para chegar ao Chile. Devido à neve que caía intensamente, a paisagem era extremamente bonita e o perigo de transitar em estradas naquelas condições também era considerável, o que até tornou tudo mais interessante.
A grande surpresa foi mesmo o Chile, que apesar de corresponder à imagem de “América do Sul” que tinha dos filmes (eu sou assim, vocês já sabem… :)), tem também uma grande influência alemã (dá para perceber porque é que alguns Nazis se refugiaram por lá).
Só para finalizar, vi um vulcão (o segundo da minha vida, lol) – o Osorno.
Pensamento III – Valparaiso tem mais funiculares que Lisboa!
Muitas coisas haveria para salientar no Chile (o cruzeiro até Peulla, a beleza de Santiago rodeada pela Cordilheira dos Andes…) mas vou apenas falar de Valparaiso, uma cidade portuária com 45 colinas e 15 funiculares centenários (ou quase) ainda em funcionamento. Num primeiro olhar a cidade pareceu-me uma favela, tal era a forma como as casas se amontoavam naquele anfiteatro natural virado para o Pacífico, mas após alguns minutos de caminhada vi que mais uma vez estava no meio daquilo a que chamo “isto é a América Latina dos filmes”! :) A cidade é lindíssima (mais uma vez, não dá para descrever :( )e por isso é que é Património Cultural da Humanidade.
Foi no alto de uma dessas colinas, depois de ter “apanhado” mais um dos funiculares do dia e de ter caminhado pelas ruas mais íngremes por onde alguma vez caminhei, que cheguei a “La Sebastiana” – uma das casas-museu de Pablo Neruda. Se tivesse de escolher apenas um acontecimento de toda a viagem, provavelmente seria a visita a esta casa onde morou Pablo Neruda (esse maluco, que “a sabia toda”…ahahah). A partir daqui sempre que encontrava uma casa-museu Pablo Neruda, lá estava eu a visitá-la com as expectativas no máximo; na realidade só visitei mais uma – La Chascona, em Santiago – e tal como em Valparaíso foi fabuloso (ficou a faltar-me a de Isla Negra). Confesso que até a fiquei a gostar mais um bocadinho de poesia e de lamechices!
Muito mais haveria para descrever, mas assumo aqui a minha total incapacidade para traduzir por palavras o que vi e o que senti.