Quarta-feira, 11 de Abril de 2012

Portugal é uma festa... ou como o novo Acordo Ortográfico nos leva ainda mais longe


 

 

 

A única justificação que apresento para não escrever seguindo o novo Acordo Ortográfico é que “não quero escrever assim”. Não é que seja uma pessoa teimosa, mas quando não quero fazer uma coisa, não a faço e como não me apetece escrever de acordo com a nova grafia, não escrevo.

 

 

            Sempre achei que esta transição teria de ser uma coisa natural para mim. Algo que surgiria sem grande esforço da minha parte. Já tinha sido assim com a condução, com a transição do escudo para o euro e até com a maternidade. Claro que começo a baixar a guarda, pois ao fim de mais 3 anos de vigência do Acordo estou já um pouco baralhada e por algumas vezes, desejei mesmo que esta transição pessoal já tivesse acontecido.

 

           

            Tal posição sobre o assunto não se deve ao desconhecimento das novas regras. Eu sei que foram inseridas novas letras no alfabeto, que não se pronuncia o que não se lê, que há supressão de alguns hífens e de alguns acentos gráficos, etc., mas desconhecia que algumas palavras também passavam a apresentar novos significados.

 

            É o caso da palavra “festa”. Para mim, e também para o dicionário da Porto Editora, o seu significado corresponde a “solenidade religiosa ou civil; comemoração pública periódica ou ocasional em honra de um acontecimento ou pessoa; reunião social para convívio e diversão, geralmente com música e dança; banquete, festim; demonstração pública de alegria.

 

            Ontem, depois de ver a antiga Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmar numa comissão parlamentar “o programa da Parque Escolar foi uma festa para as escolas, para os alunos, para a arquitectura, para a engenharia, para o emprego e para a economia”, percebi que afinal festa é um conceito muito mais abrangente pois parece referir-se não só ao que vem no dicionário, mas também ao enriquecimento rápido de algumas áreas profissionais.

 

            Outro dos conceitos que se alterou foi o de “crime”. Também segundo a douta senhora ex-Ministra da Educação, “a existência de despesas e pagamentos ilegais” não constitui um crime mas sim “uma irregularidade tipificada”.

 

            Vamos lá ver se eu absorvo todas estas alterações até 2015. 

publicado por Veruska às 19:32

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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2009

Ahhhhhhhhhhhh … ou como actualizo sem parar

 
 
O regresso nunca foi para mim uma tarefa difícil. Sempre ansiei por recomeçar tudo, ou melhor quase tudo, o que deixava inacabado ou por continuar sem final previsível. É com isto em mente que optei hoje por tentar postar mais um modesto reflexo da minha vida, embora o entusiasmo inicial da obra não esteja a ser acompanhado pelo fluir fácil das palavras.
 
Nestes quase três meses, muitas coisas aconteceram mas considero hoje que apenas uma delas foi responsável por este largo afastamento – a compra de um notebook. Mas como a minha vida de transparente tem tudo e de conspiração não tem nada, já se sabe que quem este texto ler, irá perceber porque é que determinados acontecimentos relacionados com as questões politicas actuais se desenrolam tomando o rumo que tomam.
 
A partir do momento que adquiri o meu notebook vi a minha vida mais dependente dos meios informáticos do que era até então. Passei a transportá-lo para quase todo o lado e a exibi-lo orgulhosamente. Sentia-me admirada por miúdos e invejada por graúdos. Mas à medida que o tempo passava fui-me enredando na teia que tecia sem ter consciência do que se estava a passar à minha volta.
 
Como que em jeito de troada, o meu antigo portátil reclamava a minha atenção que repentinamente se ausentara. Ele “crashava” a toda a hora, recusava-se a encerrar e até se negava-se a reconhecer qualquer pen ou disco de armazenamento. Ora se o notebook já tinha dentro dele um bocadinho da minha vida, imaginem o que se passava com o meu companheiro dos últimos quatro anos cujos circuitos, placas e memórias já eram por mim considerados uma extensão das minhas próprias entranhas.
 
Depois de semanas de ponderação e de muita desfragmentação e remoção de programas à mistura, tomei uma das decisões mais difíceis dos últimos tempos – formatar o disco. Apesar dos muitos receios, a tarefa foi levada a cabo e cerca de 30 minutos depois tudo estava terminado e o meu velhinho portátil já fazia uns plin’s e até já reconhecia as pen’s. Mas foi então que começou a tarefa mais árdua de todo o processo – era necessário actualizar, actualizar, actualizar…
 
Sempre que desligava o computador, lá aparecia o ícone correspondente que me avisava das actualizações assegurando-me que quando as estas terminassem, ele se desligaria automaticamente. Depois lá ficava eu a olhar para o monitor com um ar babado e ao mesmo tempo deslumbrado, vendo a contagem crescente de actualizações que ele fazia. Dessas actualizações poucas são aquelas cujo efeito eu realmente experienciei, mas acredito que todas tinham sido melhorias efectivas e não meras acções de cosmética.
 
Curiosamente ontem, senti que este processo tinha chegado ao fim e fiquei feliz. Claro que, quase simultaneamente, percebi que as minhas actualizações podem ter terminado, mas o processo de modernização já tinha extravasado a minha casa e neste momento atingia já alguns domínios políticos e da sociedade.
 
O primeiro sinal veio do Ministério da Educação, que mais uma vez é um elemento catalisador de mudança. Desta vez o software que se actualiza é o Estatuto da Carreira Docente. Nesta nova versão, existem diferenças anunciadas como grandes mudanças que não passam de mera cosmética e outras que deveriam passar despercebidas ao utilizador mas que afinal são cruciais. 
 
Mais uma vez há quem não esteja a aprender com os melhores e prefira a cópia pirateada em vez do original de qualidade.
 
publicado por Veruska às 22:53

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Segunda-feira, 4 de Maio de 2009

O programa Novas Oportunidades... ou como em breve existirão mais licenciados em Medicina

 

 
O senhor João André foi o aluno mais idoso do programa Novas Oportunidades. Com 85 anos concluiu recentemente o 12º ano de escolaridade. Em poucos anos, o referido senhor conseguiu completar a escolaridade básica estudando Português, Matemática, História, Geografia e até Inglês (50 horas foram o suficiente). Apesar de não ser um entusiasta da internet, utilizou o computador para “passar” os seus poemas manifestando assim o desenvolvimento de competências na área das TIC.
 
Resta a dúvida em relação à segunda língua estrangeira no ensino considerado regular; o senhor diz que já sabia algumas expressões em Francês e talvez isso tenha sido o suficiente para a obrigatória aprovação. Das ciências (naturais, físicas ou químicas) ou das artes nada nos é dito, intuindo-se que a vasta experiência profissional e vivências quotidianas terão sido suficientes para certificar as competências nestes domínios.
 
Mas como de um estudioso se tratava, o senhor João André achou que poderia ir mais além e arriscou na frequência do ensino secundário, tendo conseguido concluí-lo com sucesso dois anos depois de o ter iniciado.   As provas que prestou ou mesmo as competências trabalhadas estão omissas em todas as notas informativas, mas imagino que todas as tarefas propostas terão sido exigentíssimas e totalmente superadas com distinção. O mais velho estudante português não pensa ingressar no ensino superior, mas manifesta a intenção de frequentar um curso de escultura.
 
É sabido que as escolas do ensino público actualmente se defrontam com um elevado insucesso e abandono escolares e por essa razão o programa Novas Oportunidades apresenta-se como uma forma de inverter essa tendência e permitir que Portugal atinja um melhor lugar nos estudos realizados pela OCDE (a verdadeira).   
 
Como a intenção de alargar o ensino obrigatório até ao 12º ano de escolaridade irá  ser uma realidade a curto prazo, o governo pensa já em novas estratégias que lhe permitam garantir que efectivamente todos os portugueses poderão concluir com sucesso a sua escolaridade.  Uma dessas estratégias está já em estudo com um grupo que terá no máximo 5000 alunos. O estudo incide no desempenho que esse público-alvo terá ao realizar uma corrida de 3 km, caso desejem o diploma do 9º ano de escolaridade, ou de 10 km, se o seu objectivo for a equivalência ao 12º de escolaridade.
 
Apesar de se estar perante um ensino centrado na auto-aprendizagem, os docentes mantêm a sua posição de supervisores podendo mesmo desqualificar o aluno, caso este, por exemplo, manifeste uma má condição física ou comportamentos anti-desportivos. Acredita-se que apesar de possível, a desqualificação será uma excepção nesta fase inicial e totalmente banida quando o projecto for implementado em larga escala.
 
Como não existe sistema de cronometragem, a passagem será administrativa bastando para isso que se atinja a meta. Desta forma os numerus clausus tão odiados ao longo de décadas deixarão de fazer sentido e todos poderão aceder à carreira em Medicina.
 
 
publicado por Veruska às 00:56

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Terça-feira, 9 de Setembro de 2008

A "Paixão pela Educação"... ou o um "Ensaio sobre a Doideira"

 

 

 
O opinar sobre tudo, talvez seja uma competência específica dos portugueses mas, o que é certo é que, desde que me lembro que oiço os adultos que me rodeiam a “dizer mal” de quase tudo! Se, há uns anos atrás, isto apenas se verificava nas conversas entre amigos e conhecidos, actualmente isso é extensível aos meios de comunicação social – veja-se o caso dos programas de televisão em que o cidadão anónimo pode através de um mero telefonema dizer o que acha sobre os mais variados assuntos.
 
O tema por excelência deste tipo de discussões foi desde que há memória o futebol, mas nestes últimos anos existe um outro que, a pouco e pouco, vem conquistando por direito próprio o protagonismo – a educação. Não há ninguém que não tenha já manifestado o seu parecer sobre este tema:
- “Os professores com o ordenado que ganham, não devia nem de reclamar! Ganham muito mais que o meu marido.” – afirma sempre insistentemente a minha esteticista cujo marido é polícia;
- “Ai, isso agora está mal para os professores, não? Tenho ouvido dizer que eles agora têm de fazer muitas tabelas!” – lá dizia alguém que é gestora numa empresa de telecomunicações;
- “Como as aulas já acabaram já estás de férias…Sua sortuda!” – todos me dizem, sem que consiga compreender o que isso significa.
 
Cabe-me a mim esclarecer o que se passa actualmente no pelouro da educação, que já muitas vezes foi declarado como paixão por alguns governantes. Tudo começa no ano de 1995, em que um simples homem de seu nome António Guterres, no meio de uma sala de conferências totalmente cheia afirma que “A nossa convicção foi sempre de que a Educação seria a condição-chave de desenvolvimento. Independentemente dos resultados das próximas eleições legislativas, há hoje a convicção generalizada de que uma sociedade moderna só se desenvolve em ligação entre a Educação, a Ciência e o Emprego”. Rapidamente esta maleita se espalhou, primeiro a outros políticos da mesma cor partidária, depois aos elementos da oposição. 
 
Com o intuito de acabar com este foco epidémico, todos aqueles que padeciam desta doença ou que se julgassem infectados foram encarcerados, primeiro na Residência Oficial de São Bento e depois num edifício situado na Avenida 5 de Outubro em Lisboa, munidos apenas de muito papel e lápis. Como tudo indicava, rapidamente a doença da “Paixão pela Educação” se disseminou e foi necessário encontrar outros locais onde os que dela padeciam pudessem ser submetidos a uma quarentena forçada. Primeiro utilizou-se a Assembleia da República, depois algumas Escolas Superiores de Educação, autarquias e actualmente recorre-se com muita frequência às escolas públicas. A sintomatologia inclui sinais tão díspares como :
- utilização frequente de vocábulos cujo significado é totalmente desconhecido;
- manifesta incapacidade em manter uma conversação inteligível;
- necessidade extrema de repetir tarefas;
- não compreensão da informação escrita, principalmente da legislação;
- grande satisfação em possuir muito papel (rascunhos, fotocópias, boletins informativos, …).
 
Desconhecendo-se o vector responsável pela disseminação da doença, é impossível encontrar o tratamento que a trave.  As forças de manutenção da ordem receiam o pior, pois é mais do que evidente a agressividade latente nos atingidos por esta doença: a solidariedade é inexistente, a inveja é um sentimento dominante e quem domina as TIC exerce a sua superioridade. Apesar de todos os esforços, as autoridades, muitas delas também já afectadas pela doença, não conseguiram delimitar o surto epidémico e neste momento outros países também já foram atingidos. Veja-se o caso do Reino Unido onde a legislação irá impor que as crianças com menos de 5 anos sejam sujeitas a um exame em que a sua aprovação é essencial para a entrada no ensino pré-escolar. Neste exame avaliar-se-ão competências como: interagir com outras crianças, negociar, mudar de conversa, recitar o alfabeto, entre outras.
 
            Mas a esperança existe, e por vezes chegam-nos relatos de resistentes; pessoas que terão desenvolvido características especiais que lhes permitem manterem-se imunes ao agente infeccioso. Quase como uma espécie de tradição oral, lá se vai tendo conhecimento de alguém que sem medo:
- diz a quem quer ouvir que a linguagem que muitos utilizam não é compreensível e até, em alguns casos, é inexistente;
- se recusa a desempenhar tarefas que não fazem sentido;
- insiste em manter registos informatizados em vez dos tradicionais registos em papel…
             
publicado por Veruska às 00:46

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