Sábado, 10 de Agosto de 2013

Barco do Amor... ou como o fim se pode dar aos 42 anos

 

 

Depois de Corin Tellado chega a vez do fim do Pacific Princess. Tal como no caso da escritora, os episódios de Barco do Amor eram devorados em absoluta concentração relegando para segundo plano quaisquer instinto natural ou perturbação. Não interessava se tinha sede, se a bexiga começava a gritar por alívio ou se houvesse quem quisesse desligar a televisão. Durante cerca de uma hora, tudo o que interessava saber eram as três estórias que se interligavam cruzando as novas personagens no interior do navio.

 

À época costumava pensar que se tratava de uma série fantástica. Cada episódio tinha várias aventuras e os actores que as protagonizavam podiam, por vezes, ser identificados na Nova Gente e recortados com cuidado para amarelecerem desprovidos de importância numa qualquer caixa ou gaveta.

 

Não importava se na realidade a única coisa que se passava dentro do barco era muito sexo. Quase todos (tripulação e passageiros) tinham relacionamentos que não persistiam além da duração do cruzeiro, fomentando a ideia de que afinal o “one night stand” é que era porreiro. Também não importava que todos fossem um pouco racistas. O pobre do empregado do bar, de etnia afro-americana, só conseguia dar uma queca quando aparecia uma passageira mulata.

 

Já o palhacinho de serviço – o Gopher – raramente tinha direito a atividade no seu leito, perpassando a imagem de uma espécie de virgem inocente que fazia rir as criancinhas.  Também virgem devia de ser a Diretora do Cruzeiro – a Julie. Só me recordo de ela ter tido um relacionamento que curiosamente durou mais de um episódio (embora penso que tal se deveu ao facto de os produtores quererem justificar a sua ausência talvez por estar internada a fazer reabilitação por uso excessivo de álcool e drogas).

 

E o Capitão? Ah, o Capitão. Esse senhor que protagonizava cenas de jantares fantásticas, talvez inspirando  Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia.

 

E é assim, que ao fim de 42 anos o Pacific Princess irá ser desmantelado e reciclado, deixando apenas memórias indeléveis em quem, como eu, tem idade para estas recordações. Fico feliz por ter a mesma idade que o Barco do Amor, mas felizmente ainda estar muito longe da política dos 3 R’s.

 

publicado por Veruska às 12:00

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Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2013

Mais um São Valentim... ou a poesia presente num prosador

 

 

 

Para mim há algo que deveria marcar o Dia de São Valentim. Não quero saber da cor vermelha (ou encarnada), se as setas do cupido me atingem no coração ou mesmo se o homem dos meus sonhos acorda junto a mim e me dá um beijo em vez da tosse cavernosa que insiste em partilhar comigo.  Para mim, o importante é mesmo a POESIA que deveria ser transversal a todas as situações quotidianas nesse dia de 14 de Fevereiro.

 

Imagino mesmo um mundo repleto de fantasia em que todos seríamos peões de uma realidade sublime, plena de beleza, encantando todos com quem nos cruzássemos e inspirando qualquer ser, independentemente da sua natureza. Concebo que cada um de nós, durante esse dia, fosse capaz de pronunciar palavras com um timbre capaz de inebriar os anjos, uma altura capaz de emocionar os passarinhos e uma intensidade capaz de desencadear uma harmonia impossível de descrever. Durante essas fantásticas 24 horas, o movimento dos planetas deixaria de ser importante, a Lei da Gravitação Universal deixaria de comandar os nossos movimentos e todos flutuariam num éter pleno de maravilha.

 

Não existiriam preconceitos, comportamentos inadequados e nem sequer nada que não fosse belo. Tudo o que diríamos seria importante para quem ouvisse, e as palavras pronunciadas seriam leis que comandariam de forma nobre todos os nossos sentimentos.  Não interessaria a métrica, nem se existia rima; o importante residiria na componente emotiva do que fosse declarado.

 

Infelizmente o meu dia dos namorados não foi assim. A poesia não chegou até mim de nenhuma lado.  Flutuar foi impossível face ao meu ligeiro excesso de peso e nem sequer o que pronunciei deve ter sido importante para os que me rodeiam.  No entanto, congratulo-me por saber que afinal pelo menos Francisco José Viegas esteve imerso em POESIA (embora de caráter moderno) e tenha elevado as comemorações do Dia dos Namorados a um outro nível.

 

 

publicado por Veruska às 16:02

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Terça-feira, 14 de Abril de 2009

Desde pequena que tenho hábitos estranhos... ou como Corín Tellado foi tão importante na minha vida

Maria del Socorro Tellado López (vulgo Corín Tellado) morreu dia 11 de Abril, e por essa razão relembrei os meus tempos de puberdade, altura em que a minha vida era pautada por uma grande promiscuidade literária. Naquele tempo, a leitura não era uma prioridade lá em casa, muito menos a leitura da miúda que lia tantos livros que havia o receio de ficar com algum problema de visão. A miúda era proibida sistematicamente de ler e por vezes até lhe impunham limites de leitura semanais.
 
Nesses tempos lia tudo o que aparecia lá em casa ou aquilo a que conseguia deitar a mão: Isaac Asimov, Enid Blyton, Agatha Christie, Camilo Castelo Branco, Trindade Coelho, Eça de Queiroz, Harold Robbins, Heinz Konsalik entre muitos outros. O género não interessava, tanto vibrava com uma aventura no Colégio das Quatro Torres, como com as cenas de sexo escaldante dentro das águas calmas do Pacífico ou com o sofrimento infligido por prisioneiros sem escrúpulos que insistiam em sexo não consensual.
 
Mas de tudo, o recordo com maior nostalgia é mesmo o livro de Corín Tellado que um dia encontrei lá por casa. A história centrava-se numa filha de empregada que se apaixonava pelo filho dos donos da casa, um elegante cavalheiro cujo esquema ardiloso da menina de classe baixa o levou à paixão impossível de conter. Apesar da aprovação parental por ler obras mais consentâneas com o meu género e idade e que de alguma forma promoveriam a minha formação como futura mãe e esposa, depressa percebi que aquelas histórias além de não reflectirem a realidade, tinham como único interesse a comicidade existente nas entrelinhas.
 
Durante algum tempo, e catalisada por tão repetitiva autora, a minha criatividade intensificou-se levando à criação de uma personagem imaginária, também ela escritora, de nome Corín do Telhado, e também eu, cumprindo com a tradição oral de séculos de sabedoria popular, lá fui transmitindo à minha irmã estórias de amor profundamente irónicas, inspiradas por fotografias de revistas.
 
            Devido à tenra idade da minha irmã (ela não teria mais de 6 anos) a sua memória destes acontecimentos não deve ser grande. Ainda bem!
publicado por Veruska às 14:10

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Sexta-feira, 26 de Setembro de 2008

O verdadeiro amor... ou como é tão fácil construir uma vagina

 

 
Ontem fui ver um filme que, embora americano e de certeza de orçamento elevado, se revelou uma óptima surpresa. “Lars e o Verdadeiro Amor”, assim se chamava a película, centrava-se num homem com uma timidez tão grande que o impedia de estabelecer qualquer relação de proximidade com as pessoas que o rodeavam. Essa timidez, em conjunto com uma grande solidão, levam Lars a comprar uma “boneca de silicone” ou “boneca do amor” a quem deram o nome de Bianca. A partir daí, Lars acredita que a boneca é a sua verdadeira namorada e, através de muitas peripécias, a relação vai-se desenvolvendo sendo totalmente aceite pela sua família e por toda a comunidade.
 
Ao sair do cinema não deixei de comentar que a razão pela qual tantas mulheres se encontram sozinhas é porque na realidade os homens só querem um corpo e nada mais. Já para mim, um “boneco do amor” não teria qualquer interesse, pois a ideia de ter um parceiro totalmente dependente de mim, sem vontade própria e em que a conversa estivesse ausente iria desagradar-me totalmente (grave no meio disto tudo é haver tantos homens de carne e osso que se podem classificar como “bonecos do amor”).
 
Mas, por si só, este filme nunca seria o tema do meu post não fossem as últimas notícias sobre o computador Magalhães. Segundo tenho lido, a distribuição deste computador pelas escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, tem levado à discussão o “controlo parental” sobre as crianças que navegam na internet. Na sequência deste debate público muitos são os que têm feito pequenas demonstrações sobre as consequências que a ausência deste controlo poderá originar; repetem-se os textos sobre o que acontece quando se “googla” a palavra sexo, pénis ou vagina.  Se em relação ao sexo e aos pénis já nada me surpreende, já no que diz respeito às vaginas pelos vistos ainda tenho muito que aprender (já se sabe que “em casa de ferreiro, espeto de pau”).  
 
Desta feita, o meu grande espanto foi para um tutorial que ensina a construir uma vagina artificial caseira; é isso mesmo uma VAGINA ARTIFICIAL CASEIRA. Mas mais chocante ainda, é que se se pesquisar mais, ainda se encontram outros sites que explicam outras formas de construir vaginas artificias caseiras.  
 
Acredito que existem no mundo vaginas verdadeiras em número suficiente para satisfazer quer todos os indivíduos do género masculino, quer as lésbicas que por aí pululam. Não consigo aceitar que um homem prefira realmente um “sucedâneo” em vez do produto original.  No entanto resta-me esperar que todos sejam como o Lars que decide acreditar que a sua Bianca morre para que possa ficar com a rapariga gira de carne e osso.
 
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publicado por Veruska às 00:41

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Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

O amor nem sempre é lindo... ou como o ponto final pode estar ausente da pontuação

 

 
Talvez por não ter ainda sido encontrada a sua explicação científica, o amor é sempre considerado como a “coisa mais linda do mundo”. Enquanto se ama de forma correspondida os dias parecem passar de forma muito veloz, o sono ou a falta dele deixa de ser determinante para o nosso bem-estar durante o dia e o sorriso é uma constante. Mas como em tudo na vida, tal êxtase não se mantém para sempre, chega sempre a altura em que o amor acaba e é necessário alterar as prioridades, adaptar-se à nova situação e sobretudo dormir, dormir muito…
 
É sobre este “fim” que me quero debruçar hoje. Mais propriamente sobre as semelhanças que existem entre um relacionamento amoroso e a iliteracia (o analfabetismo funcional, que impede as pessoas de compreender o significado de uma frase ou até de uma palavra). 
 
A comunicação é essencial numa relação amorosa. Ambos os intervenientes devem interagir produzindo e recebendo as mais diversas mensagens e, para que o sucesso esteja presente, estas devem ser sempre entendidas. Quando falo em comunicação estou referir-me não só à verbal mas também à não verbal; todos sabemos que uma imagem pode valer mais do que mil palavras e é essa a única razão, mas mesmo a única razão, que nos pode levar a um relacionamento com homens que em vez de falar mascam pastilha elástica, que em vez de beijar, fazem uma pressão de elefante sobre a boca ou que em vez de acariciar a pele parece que lavam roupa suja num tanque!
 
Sendo estes homens portadores de belos glúteos tonificados por horas intensas de ginásio, fluentes em “ginasês” (linguajar muito utilizado por frequentadores assíduos de ginásios, spa’s e afins) e auto-intitulados  “Love Personal Trainer” (LPT), seria de esperar que outras características como a sedução, o erotismo e até a facilidade na troca de ideias sobre generalidades também estivessem presentes. Mas na realidade não! Os LPT’s são homens com uma reduzida capacidade de comunicação, e por essa razão semelhantes a quem tenta escrever um texto sem conhecer a gramática.
 
Na redacção de um texto é essencial saber utilizar de forma correcta a pontuação: o ponto de exclamação, os dois pontos, as reticências, o ponto de interrogação, o ponto final…, pois é esta que lhe atribui a expressividade. Numa relação o mesmo acontece:
- é muito importante saber exprimir correctamente todos os sentimentos e emoções que nos invadem quando estamos apaixonados;
-  é estimulante não dizer tudo, deixando que a imaginação faça o seu papel;
– é fundamental saber quando fazer uma pausa e enunciar as práticas sexuais que necessitam de ser melhoradas;
- é necessário dominar a arte de fazer uma pergunta de forma despercebida quando se desconfia de infidelidade;
- é imprescindível saber quando tudo chegou ao fim.
 
Relações sem emoção e ausentes de expressividade, correspondem a textos sem pontuação. É um facto que a iliteracia é um problema real - há quem não saiba o significado de um ponto final!
publicado por Veruska às 21:05

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