Foto: Veruska
Foto: "Verusko"
Quando era pequenina, a minha mãe devia ameaçar-me com o ciganos. Não é que tenha memória desses tempos, mas na realidade ao longo da minha vida sempre senti que me devia afastar deles. Como sou bem formada, nunca senti qualquer tipo de xenofobia consciente pelos elementos dessa suposta minoria étnica (que em Faro são de certeza uma parte representativa dos munícipes) mas de repente começo a ter uma irritaçãozinha aqui, a desenvolver-se no fundo da minha barriga.
Ultimamente tenho-me visto envolvida em situações com ciganos a conduzirem carroças com cavalos, mulas e até póneis. As regras de trânsito são minimamente respeitadas por esses veículos movidos a força animal, mas é impossível deixar de sentir alguma impaciência quando somos apanhados em filas por causa da carroça que vai devagar, ou incredulidade quando os vemos estacionar em lugares não autorizados ou mesmo medo quando vemos um desses veículos descontrolado em contra-mão.
Talvez seja alguma vingança do Universo que decidiu lançar contra mim todas as suas forças ocultas, mas juro que isto me está a moer sobretudo quando me lembro da cigana “chique” que usava uma mala Candy Furla ou da cigana “gira” a quem dei um aquecedor a óleo (pois consumia muita energia) e que afinal morava na “barraca” e devia furtar eletricidade.
Manuel Farinhoto é criador de gado há 50 anos e aos 66 anos decidiu reformar-se. É justo, tem uma carreira muito longa, está desgastado e agora quer descansar. Não sei se esta carreira longa teve um equivalente contributivo ou se o referido senhor fez poupanças ao longo da vida, mas uma coisa é certa ele já está a agir de acordo com as novas regras que serão aplicadas a partir de 2014 – reformas só aos 66 anos.
Ora, o senhor Farinhoto decidiu encerrar a sua actividade com a venda dos seus últimos dois touros, bravos como ninguém esperava. “Os bichos, com menos de dois anos de idade, mais de 500 quilos, e um deles muito agressivo, foram vendidos a um talho de Ponte de Lima. Segunda-feira, cerca das 18h30, quando eram conduzidos ao camião que os levaria para abate, conseguiram fugir. O mais violento soltou-se das cordas que o prendiam e puxavam para o interior do veículo e irrompeu campo fora, sem parar. O outro, que já se encontrava dentro do camião, no meio da confusão acabou por fugir também.”
Desde há vários dias que se tenta a sua captura. Já foram avistados por várias vezes, as equipas preparadas para tal já estiveram próximas e até populares os enxergaram por diversas ocasiões. Mas nada; os avistamentos não culminam em captura.
Diz o senhor Farinhoto, já frustrado e cansado que a culpa é da burocracia necessária. É necessário alertar as várias entidades, levar a cabo formalidades e por fim conseguir capturar os touros.
Pois, ninguém explicou aos touros que há sempre “papéis a preencher”!
Hoje tive uma noite muito complicada. O meu filho de 4 meses decidiu(após quase 3 meses de descanso) choramingar, acordar e até gritar entre a meia-noite e as três da manhã. Como me recuso a tirá-lo da cama por causa de uma birra, tentei de tudo para que ele se calasse ou pelo menos para que eu não o ouvisse (até utilizei a fantástica estratégia de desligar o intercomunicador…).
Finalmente, depois de beber 180 mL de leite, o miúdo calou-se e eu pude voltar para o silêncio do meu quarto e ficar acordada durante mais de uma hora sem compreender a alteração do padrão de comportamento do meu filho. Este período de insónia forçada fez com que acordasse (infelizmente, antes das 7 horas da manhã) cansada e com a gripe que assola o meu corpo desde a última sexta-feira entranhada nas minhas articulações e garganta.
Apesar de o meu corpo gritar por descanso e opor-se a uma caminhada de quase 2 horas ao vento frio, decidi não o ouvir. Agarrei no leitor de mp3 certa de que umas músicas e uma paisagem de cortar a respiração me dariam a energia necessária para enfrentar o resto do dia e a esperança de que a próxima noite poderá ser mais tranquila.
Enquanto caminhava pensava em escrever um novo post, mas infelizmente o assunto não surgia e adiei mentalmente a tarefa. Dediquei-me então a reflectir sobre os últimos acontecimentos que envolvem a casa real espanhola. Primeiro foi o facto do neto de Rei Juan Carlos ter dado um tiro no pé (facto que lembra o ocorrido no Estoril há muitos anos atrás que o levaram a assumir o trono) e agora a notícia de que teria partido a anca enquanto andava a fazer caça grossa no Botswana.
Senti repulsa pelo senhor desde que as fotografias que o colocavam de arma em punho perto de um elefante morto tinham sido reveladas. Acho aviltante tudo o que transparece dessas pequenas eternizações impregnadas de sofrimento animal e regozijo humano. E tudo isto vindo de um monarca de um país europeu, que revela assim um comportamento do mais desprezível que se pode imaginar.
Já eu, uma simples mulher de classe média pré-FMI, oriunda de uma família modesta, impedi que um homem se suicidasse na Ria Formosa em Faro (Ludo) esta manhã enquanto caminhava.
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. Touros à solta... ou uma ...
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