Foto: Veruska
Foto: "Verusko"
Quando era pequenina, a minha mãe devia ameaçar-me com o ciganos. Não é que tenha memória desses tempos, mas na realidade ao longo da minha vida sempre senti que me devia afastar deles. Como sou bem formada, nunca senti qualquer tipo de xenofobia consciente pelos elementos dessa suposta minoria étnica (que em Faro são de certeza uma parte representativa dos munícipes) mas de repente começo a ter uma irritaçãozinha aqui, a desenvolver-se no fundo da minha barriga.
Ultimamente tenho-me visto envolvida em situações com ciganos a conduzirem carroças com cavalos, mulas e até póneis. As regras de trânsito são minimamente respeitadas por esses veículos movidos a força animal, mas é impossível deixar de sentir alguma impaciência quando somos apanhados em filas por causa da carroça que vai devagar, ou incredulidade quando os vemos estacionar em lugares não autorizados ou mesmo medo quando vemos um desses veículos descontrolado em contra-mão.
Talvez seja alguma vingança do Universo que decidiu lançar contra mim todas as suas forças ocultas, mas juro que isto me está a moer sobretudo quando me lembro da cigana “chique” que usava uma mala Candy Furla ou da cigana “gira” a quem dei um aquecedor a óleo (pois consumia muita energia) e que afinal morava na “barraca” e devia furtar eletricidade.
Sexta-feira de manhã acordo, vou até à janela da minha cozinha como usualmente para ver como estava a Ria e, reparo que os carros estacionados na rua onde moro tinham um balão vermelho daqueles “em pé” (cheios de hélio) atado ao espelho lateral.
Realmente a visão era agradável e sobretudo totalmente inesperada, pois jamais imaginaria uma campanha publicitária deste tipo. Depois de alguns segundos a pensar como teria sido operacionalizada toda a acção (quando teriam colocado os balões; como se tinham deslocado até ao local onde moro; estariam presos ao espelho através de um nó ou de outra forma qualquer, trariam os balões vazios ou já cheios…) detive-me sobre quem poderia ter sido o mandante de toda aquela campanha. Confesso que o único nome que me surgia era o do Professor Bambo tão divulgado aqui por estes lados até há alguns meses atrás.
Enquanto reflectia sobre estas dúvidas que me atrasavam para o trabalho vejo, com grande tristeza minha, que o meu carro não tinha um balão vermelho assim todo espetadinho para o ar. O carro que lhe estava à esquerda tinha um, o que estava à direita tinha outro, mas o meu próprio carro não tinha nada, absolutamente nada.
Tratei de me arranjar o mais rápido possível para ir até à rua esclarecer tudo. Uma vez lá chegada, fui até ao carro mais próximo; vi como os balões tinham sido presos aos espelhos laterais (por uma fita vermelha enrolada em torno do espelho sem qualquer nó ou laço) e descobri de que campanha se tratava (um evento que decorrerá no dia 8 de Dezembro, intitulado Faro Fashion Natal).
Imediatamente se fez luz; já sabia porque tinha sido tão severamente castigada:
1º) Não sou uma grande fã do Natal – não faço árvore de Natal, tenho um presépio pequenino lá em casa ao lado de um boneco de vudu, não oiço canções natalícias e nem sequer dou importância às prendas;
2º) A matrícula do meu carro tem a inscrição “Estoril-Cascais” o que pode indiciar a qualquer farense com um bairrismo exacerbado, que estaria na presença de um bólide pertencente a uma “betinha da linha” que poderia rivalizar com qualquer uma das candidatas a Miss Algarve Mais que iriam estar presentes no evento ou quiçá retirar protagonismo a Francisco Mendes de cognome “Top+ RPT1” que por lá aparecerá.