No outro dia perguntavam-me sobre o que era concretamente o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Facilmente expliquei, que tudo não era mais do que algo que nos impedia de saber com igual certeza, a velocidade e a posição de uma partícula (leia-se eletrão). Se se conseguir medir com exatidão a sua velocidade, não saberei com exatidão a sua posição e se conhecer a posição não terei certezas sobre a velocidade. Apesar de tudo isto se aplicar a uma partícula sub-atómica não deixo de achar irónico, em que algumas situações, um rearranjo de escala possa levar a que o Princípio se aplique a corpos macroscópicos. Penso em concreto no dinheiro.
Desde há algum tempo a esta parte, que deixei de conhecer exatamente a posição do meu saldo bancário. Não sei se tenho mais ou menos dinheiro, mas sei com detalhe que logo após o crédito do meu ordenado ele sai da minha conta a uma velocidade supersónica (talvez mach 2). E mais, face aos últimos acontecimentos, verifiquei que a velocidade de saída do dinheiro do meu ordenado é tão grande, que deixei de perceber quanto é que aufiro mensalmente.
Claro que eu também contribuo ativamente para essa diminuição de rendimento mensal. Eu preciso de comer, de pagar despesas fixas como eletricidade, água e gás e até de recorrer a médicos e realizar exames de diagnóstico. Preciso também de me deslocar até ao meu local de trabalho e de sustentar o meu filho de dois anos. O que eu não precisava mesmo era de investir num portátil porque trabalho com computadores obsoletos ou pagar do meu bolso formação que obrigatoriamente tenho de frequentar…
Nestes dias de reflexão sobre o que aprendi na faculdade, comecei a deixar para trás o Princípio da Incerteza de Heisenberg e centrar-me no Efeito Borboleta. Talvez o meu leve bater de asas (que é a única coisa que faço desde que prescindi de ir ao cinema, ao teatro; de comprar livros, CD’s, roupas em lojas que não sejam a Primark ou com descontos superiores a 60%, detergentes que não estejam com descontos que permitam fazer stock para um ano, etc etc) possa provocar um tufão.
Hoje comemora-se pela primeira vez o Dia Mundial da Felicidade. Este tema da felicidade é-me muito querido e desde há muitos anos que tento aprender mais sobre essa temática. Sinto-me maravilhada pelo o fato de, no Butão ser utilizado um Índice de Felicidade para avaliar o desenvolvimento e por, na Islândia (um dos países mais felizes da Europa) a noite longa não ser fator que a afete negativamente.
E podia continuar e falar do homem mais feliz do mundo, Matthieu Ricard, o homem que “em estado contemplativo, (…) conseguiu um equilíbrio entre emoções jamais visto, com um claro desvio para as positivas, como o entusiasmo e a alegria, que anulavam as negativas, como o medo e a ansiedade”.
Foi precisamente um estado semelhante a esse que eu atingi hoje, talvez pela primeira vez na vida. O dia estava primaveril e o sono descansado conferiu-me a tranquilidade necessária. Apesar da ligeira ansiedade que sentia ao dirigir-me para uma Masterclass em Física das Partículas e do medo do desconhecimento do assunto, rapidamente o desvio para as emoções positivas aconteceu.
Entre quarks, eletrões, fotões e outras coisas terminadas em –ões, lá andei eu a analisar dados reais/eventos e a selecionar pares de partículas e a identificar fotões. A alegria em participar em tão importante tarefa e o entusiasmo por saber que poderia dar de caras com um bosão de Higgs foi sem dúvida um assomo inacreditável de felicidade.
A especulação chegou à Ciência, nomeadamente à Física com a hipótese de ter sido descoberto o bosão de Higgs, partícula “essencial à explicação do mundo que nos rodeia, uma vez que é ela que confere, segundo o Modelo-Padrão, a sua massa às outras partículas (como os quarks, electrões e protões) - e que, sem ela, a matéria tal como a conhecemos, incluindo nós próprios, não poderia existir”.
Joe Incandela, professor de Física a trabalhar actualmente no CERN, explica como define a “partícula de Deus”: “Para mim, o Universo - ou seja, o espaço-tempo - não é vazio. É uma espécie de tecido - e, em todos os pontos desse tecido, há partículas que podem, de repente, existir e deixar de existir. Uma delas é o Higgs. O Higgs existe potencialmente; não está realmente lá, mas está lá num sentido virtual”.
O bosão de Higgs é simultaneamente uma onda e uma partícula, um conceito de difícil compreensão para a maior parte das pessoas, Por vezes dará jeito encará-la como uma onda e outras vezes como uma partícula, algo difícil de percepcionar no nosso quotidiano, embora em raras situações também comportamentos duais existam. Um dos exemplos que me ocorre é o do ministro Miguel Relvas (não é que tenha alguma coisa contra o senhor ou que queira denegrir a sua imagem, mas o que é um facto é que ele se põe mesmo a jeito).
Ora veja-se o percurso académico do senhor:
- 1984 – Inscrição no curso de Direito
- 1985 – Conclusão da cadeira de Ciência Política e Direito Constitucional e subsequente transferência para o curso de História
- 1995/1996 – Reingresso na Lusíada para o Curso de Relações Internacionais
- 2006 – Admissão na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
- 2007 – Conclusão da licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.
Tal como no bosão de Higgs, Miguel Relvas existe e deixa de existir no universo académico português; ora frequenta um curso, ora frequenta outro, ora estuda numa Universidade, ora estuda noutra. Ao longo do seu percurso só consegue concluir uma cadeira mas adquire o grau de licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais em apenas um ano lectivo, concluindo-se que ele mesmo ausente, só poderá estar lá virtualmente.
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