Hoje comemora-se pela primeira vez o Dia Mundial da Felicidade. Este tema da felicidade é-me muito querido e desde há muitos anos que tento aprender mais sobre essa temática. Sinto-me maravilhada pelo o fato de, no Butão ser utilizado um Índice de Felicidade para avaliar o desenvolvimento e por, na Islândia (um dos países mais felizes da Europa) a noite longa não ser fator que a afete negativamente.
E podia continuar e falar do homem mais feliz do mundo, Matthieu Ricard, o homem que “em estado contemplativo, (…) conseguiu um equilíbrio entre emoções jamais visto, com um claro desvio para as positivas, como o entusiasmo e a alegria, que anulavam as negativas, como o medo e a ansiedade”.
Foi precisamente um estado semelhante a esse que eu atingi hoje, talvez pela primeira vez na vida. O dia estava primaveril e o sono descansado conferiu-me a tranquilidade necessária. Apesar da ligeira ansiedade que sentia ao dirigir-me para uma Masterclass em Física das Partículas e do medo do desconhecimento do assunto, rapidamente o desvio para as emoções positivas aconteceu.
Entre quarks, eletrões, fotões e outras coisas terminadas em –ões, lá andei eu a analisar dados reais/eventos e a selecionar pares de partículas e a identificar fotões. A alegria em participar em tão importante tarefa e o entusiasmo por saber que poderia dar de caras com um bosão de Higgs foi sem dúvida um assomo inacreditável de felicidade.
Sou uma pessoa interessada pelo mundo que me rodeia e, como gosto de pensar, minimamente informada. Neste momento não se fala de outro assunto que não seja a crise financeira mais agravada nos EUA embora seja um problema global. Em virtude de ter uma vida social intensa (por incrível que pareça é mesmo possível ter uma vida social intensa no Algarve…) e uma rotina diária que começa cedo e acaba tarde, raramente vejo noticiários. Por essa razão, o meu conhecimento da realidade restringe-se à leitura de algumas revistas que, muitas vezes, é feita já muito depois de terem estado nas bancas (sinto-me triste por não conseguir dar vazão às publicações que chegam à minha caixa de correio e a todas as outras que compro…) e à consulta de alguns sites.
Numa destas noites chego a casa e ao ligar o televisor sou confrontada com a ideia de que a Islândia poderia estar na bancarrota. Pareceu-me impossível o país da Bjork, dos vulcões e com um dos maiores índices SWB (subjective well-being = índice da felicidade) do mundo estar numa situação tão grave. Na altura não sabia ainda porquê, mas tal notícia em conjunto com a crise financeira mundial não suscitou em mim qualquer tipo de preocupação nem sequer a vontade de discutir o assunto com os amigos; pura e simplesmente o assunto não me interessava – não tenho dinheiro investido em acções, nem sequer tenho uma poupança digna desse nome e por isso um crash financeiro se calhar até era uma coisa boa!
É a partir dessa altura que sinto que dentro de mim algo estava a mudar: a vontade de não levar trabalho para casa, a urgência em arrumar o meu escritório (arrumar à séria; dividir as coisas em montes já não me satisfazia), o prazer em ensacar quilogramas de papel para reciclar e até o desejo, embora tímido, de deitar algumas roupas fora. Não sei se eram os chakras que estavam finalmente alinhados ou se seria a alma que estava definitivamente limpa, mas sentia-me cada vez melhor. Esta sensação de bem-estar levou até a uma ida a um Spa para fazer uma sessão de talassoterapia (só posso dizer que foi muito bom; houve jactos de água que se aventuraram por caminhos cujo acesso se faz apenas com autorização expressa da interessada).
Foi aqui que percebi que afinal eu sou muito melhor que qualquer islandês ou islandesa: o mar está diariamente presente na minha vida, o Sol é uma constante seja Verão ou Inverno e também eu estou quase na bancarrota. Agora sim, tenho a certeza de que sou uma pessoa muito feliz.