Numa aula de Tango em plena Buenos Aires, chega um homem barbudo de ar enigmático, pousa a pasta que carregava, não fala com ninguém e fixa o seu olhar no chão.
Eu que descansava um pouco, antes de reiniciar mais uma tentativa de dança, sinto uma enorme curiosidade em tentar perceber o que ele observava. Só poderiam ser os pés das pessoas que dançavam.
Eu sei que o Tango é uma dança muito elegante em que os pés deslizam, as pernas se entrecruzam e a sensualidade nunca está ausente, mas para mim teria de haver mais qualquer coisa. Reflecti, reflecti e cheguei à conclusão que o já referido senhor teria um gosto particular por pés (ou sapatos). Claro que desde sempre soube que esse gosto particular por pés não é assim tão raro e muito menos exclusivo dos homens. O que para mim é novidade é a forma dissimulada como as pessoas, sobretudo os homens, realizam as suas fantasias mais íntimas.
O fetiche pelos pés está presente em muitas situações e será porventura o mais frequente na nossa sociedade:
- A Cinderela com os seus sapatos de cristal, inculcando logo nas meninas de tenra idade a ideia de que “gaja que é gaja anda de saltos”;
- A bota Botilde especialmente desenvolvida para raparigas mais “arrapazadas”, para que quando se tornem adultas se viciem em comprar botas, muitas botas (pretas, castanhas, azuis, verdes, cinzentas e até brancas; sim eu tenho umas botas brancas);
- A série “Sexo e a Cidade” que gira em torno de quatro amigas trintonas nova-iorquinas que são lindas muito lindas, e que todo o seu glamour resulta das centenas de euros que gastam em sapatos de marca, especialmente do Manolo Blahnik (para quem não tem esse dinheiro resta-lhe a consolação de comprar uma calçadeira em forma de sapato com um salto de 12 cm do mesmo estilista, numa loja de design…);
- A atribuição do prémio “Bota de Ouro” ao melhor marcador conseguindo deslocar para o campo dos adeptos futebolísticos algumas mulheres que ainda resistem a gostar desse desporto tão primário.
Acho que começo a acreditar que Deus existe mesmo, também é podófilo, e que é por isso que não tem feito nada de jeito nestes últimos milénios!