Nestes dias de crise que antecedem as eleições presidenciais americanas tenho pensado no que aproxima e afasta portugueses e americanos. Desde muito miúda que a nação americana me é apresentada em formato de sonho fabricada à custa de tantos filmes, programas televisivos e música. Mas à medida que fui crescendo percebi que afinal essa América imaginada em muito pouco se assemelhava à real. Actualmente posso afirmar sem qualquer dúvida que Portugal é em muito superior aos EUA já que apresenta um maior índice de modernidade e uma ainda maior cultura de gestão empresarial.
Qualquer pessoa minimamente atenta ao que se passa já deve ter ouvido falar de um senhor apelidado pela comunicação social por Joe, O Canalizador. Este senhor nos últimos dias teve direito aos seus 15 minutos de fama quando, numa acção de campanha de rua, questionou Barack Obama sobre os impostos que iriam incidir sobre a empresa que planeava comprar. Na sequência da questão colocada por Joe, Barack Obama explicou com bastantes detalhes o plano fiscal que pensa introduzir caso saia vencedor. É aqui que surge o primeiro indicador de modernidade portuguesa – em toda a reportagem noticiosa não se vê um único apoiante a sorrir para a câmara e a falar ao telemóvel. Registe-se esta atitude tão pouco empreendedora dos americanos e tão comum junto dos portugueses que são “apanhados” em filmagens de exterior.
Logo de imediato, analistas e “orientadores de opinião” compararam Joe, O Canalizador ao portuguesíssimo Zé Povinho. Também aqui superamos os americanos ao manifestar um maior sentido de cultura empresarial: sendo o Zé Povinho uma espécie de “faz-tudo” não se limita só às instalações sanitárias, caleiras e canalizações e por essa razão consegue abranger mais áreas de interesse.
Nos dias que se seguiram descobriu-se que afinal Joe, O Canalizador não tem licença para desempenhar a profissão, até é conhecido por Sam e provavelmente foge aos impostos. Mais uma vez Portugal detém a supremacia, pois desafio qualquer um a indicar-me um canalizador que passe factura das reparações que faz (posso parecer dura demais e até um pouco amarga, mas neste momento estou a carpir o dinheiro que paguei a um “faz-tudo” para me desencarcerar da minha própria casa e do recibo ainda não há notícia; acho que vou ter de denunciá-lo à ASAE). Mais um ponto a favor de Portugal: ainda os EUA não eram uma nação já a corrupção estava bem instalada entre nós.
Mas como tudo nesta vida está relacionado e o tema da canalização parece estar na ordem do dia, lá descubro eu que um grupo de alunos universitários ganha um concurso de empreendedorismo. Estes jovens pretendem aplicar em Portugal um sistema de concepção americana de reutilização de água dos lavatórios nos autoclismos. A ideia pode ser americana, mas quem é que quer aplicá-la? Os portugueses! Ai, pois é!