Maria del Socorro Tellado López (vulgo Corín Tellado) morreu dia 11 de Abril, e por essa razão relembrei os meus tempos de puberdade, altura em que a minha vida era pautada por uma grande promiscuidade literária. Naquele tempo, a leitura não era uma prioridade lá em casa, muito menos a leitura da miúda que lia tantos livros que havia o receio de ficar com algum problema de visão. A miúda era proibida sistematicamente de ler e por vezes até lhe impunham limites de leitura semanais.
Nesses tempos lia tudo o que aparecia lá em casa ou aquilo a que conseguia deitar a mão: Isaac Asimov, Enid Blyton, Agatha Christie, Camilo Castelo Branco, Trindade Coelho, Eça de Queiroz, Harold Robbins, Heinz Konsalik entre muitos outros. O género não interessava, tanto vibrava com uma aventura no Colégio das Quatro Torres, como com as cenas de sexo escaldante dentro das águas calmas do Pacífico ou com o sofrimento infligido por prisioneiros sem escrúpulos que insistiam em sexo não consensual.
Mas de tudo, o recordo com maior nostalgia é mesmo o livro de Corín Tellado que um dia encontrei lá por casa. A história centrava-se numa filha de empregada que se apaixonava pelo filho dos donos da casa, um elegante cavalheiro cujo esquema ardiloso da menina de classe baixa o levou à paixão impossível de conter. Apesar da aprovação parental por ler obras mais consentâneas com o meu género e idade e que de alguma forma promoveriam a minha formação como futura mãe e esposa, depressa percebi que aquelas histórias além de não reflectirem a realidade, tinham como único interesse a comicidade existente nas entrelinhas.
Durante algum tempo, e catalisada por tão repetitiva autora, a minha criatividade intensificou-se levando à criação de uma personagem imaginária, também ela escritora, de nome Corín do Telhado, e também eu, cumprindo com a tradição oral de séculos de sabedoria popular, lá fui transmitindo à minha irmã estórias de amor profundamente irónicas, inspiradas por fotografias de revistas.
Devido à tenra idade da minha irmã (ela não teria mais de 6 anos) a sua memória destes acontecimentos não deve ser grande. Ainda bem!
De
Veruska a 18 de Abril de 2009 às 15:28
Fantástico! Que ideia ternurenta a de teres arranjado forma de carregar mais livros.
Só quem gosta de ler é que percebe estas pequenas coisas.
Vou ler o texto sobre as bibliotecas.
Pois era – já na altura tinha uns estratagemas bem engendrados para me safar na vida! E só tinha 7 anos!!!
; )
Acho que aprendi verdadeiramente a ler com os livros de aventuras da C.G..
Lembro-me bem que comecei com a Heidi (livro grande, capa grossa) e com o Nodi (pois é, já nesse tempo tínhamos o Nodi!).
Logo de seguida, tudo da Enid Blyton (As Gémeas incluídas), e depois Júlio Verne, Edgar Rice Burroughs, Jack London, Mark Twain, Jonathan Swift, Daniel Dafoe, Robert Louis Stevenson...
Lançando agora um olhar retro sobre essa época, não posso deixar de considerar que os livros foram, sem dúvida, os melhores e mais leais companheiros de aventuras da minha infãncia e adolescência!
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