Domingo, 29 de Abril de 2012

Uma combinação improvável... ou como podemos estar tranquilos quando vamos ao médico


 

 

 

As notícias sobre a má aplicação do erário público sucedem-se. Praticamente não há dia em que não se descubram novos défices, facturas não declaradas ou fugas aos impostos.  Numa tentativa de recuperação, também quase todos os dias somos confrontados com a aplicação de novas taxas, aumentos ou ultimatos para se pagar o que se deve.

 

Tais factos, não são exclusivo de nosso país, mas sim ocorrem de forma transversal em praticamente todo o mundo ocidental. Há trocas de governo em grande parte dos países da Europa, a Espanha está em recessão e apresenta uma elevada taxa de desemprego, a Grécia atravessa uma crise tão profunda que já nem há palavras para a descrever e até os Estados Unidos não são imunes a esta escassez de liquidez.

 

E como é em tempos difíceis que o engenho se aguça e a criatividade se acentua, por todo o lado surgem combinações improváveis na esperança de que elas ajudem a alcançar os intentos de quem os promove. Uma dessas combinações juntou Jimmy Fallon, Barack Obama e os The Roots (de quem sou realmente fã). Este trio improvisado comentou/cantou uma das questões da actualidade nos Estados Unidos – o aumento das propinas – ao som de música melosa e cheia de groove.

 

Por cá o aumento das propinas também está na ordem do dia, com as universidades a fazerem ultimatos na esperança de recuperarem todo o dinheiro em falta. No entanto, não se usa a música como arma de angariação de simpatia dos cidadãos, nem um político que fale publicamente sobre o assunto defendendo o estudante. Usam-se sim, estratégias de ameaça que passam por penhoras ou cancelamento de matrículas.

 

Outra estratégia que também está a ser utilizada leva o que se disse atrás, ainda mais longe.  Como os estudantes, normalmente parcos em rendimentos,  não dispõem de grandes meios para fazer face a esta despesa que de simbólico não tem nada e transforma o ensino universitário público quase em particular, há que estimular a população em geral a contribuir para a resolução deste problema.

 

A primeira acção consistiu na divulgação de uma situação em que um estudante de medicina, depois de interromper a toma de medicamentos para a doença do foro psiquiátrico que possuía, agrediu os pais à dentada.  É desnecessário comentar a ironia de tudo isto, mas estou certa de que todos que como eu usufruem do Sistema Nacional de Saúde estão mais alertas e solidários com todos os estudantes que se encontram em dificuldades. “Bem trabalhados” até seríamos capazes de contribuir para um fundo cujo destino final seria o de resgatar as universidades com problemas.

 

Aguardo agora a divulgação de mais combinações improváveis que envolvam outras classes profissionais, como por exemplo os banqueiros ou os presidentes de grandes grupos económicos.

 

publicado por Veruska às 20:28

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Quarta-feira, 25 de Abril de 2012

Um suplemento de cálcio... ou como quem erra é quem devia fazer tudo bem


 

 

O Calcitrim é um suplemento alimentar de cálcio anunciado em vários programas televisivos em directo. A determinada altura, o programa é interrompido, o apresentador ou apresentadora dirige-se a uma bancada onde se encontra uma bonita rapariga com ar simpático que explica, utilizando linguagem acessível, o que acontece aos nossos ossos com o passar dos anos e como esses efeitos podem ser atenuados com a toma destas pílulas.

 

            O apresentador ou apresentadora mostra um encenado interesse pelo produto e entabula questões que não passam de repetições do que já foi dito pela promotora.  Tudo é feito de forma simples, clara e objectiva. Não sei se vendem muitas embalagens do produto em questão, mas o que é certo é que jamais o compraria; o que anunciam não passa de uns simples comprimido com cálcio que, quase de certeza, pode ser adquirido em farmácias ou parafarmácias por um preço mais acessível e com a garantia de que todo o processo produtivo decorreu de acordo com as normas que regulamentam essa área de negócios.

 

            Parece-me que toda a propaganda assenta em realidades inegáveis, no entanto, a desconfiança sobre quem vende o Calcitrim, onde é fabricado, quais os procedimentos de qualidade e muitas outras coisas, despertam em mim ainda maior vontade de nunca me aproximar de tais pílulas. A desconfiança é o sentimento que impera cada vez que vejo o espaço de anúncio ao Calcitrim e a todos os produtos anunciados pela mesma empresa.

           

O discurso proferido pelo Presidente da República, Cavaco Silva, nas comemorações do 25 de Abril deste ano sofreu do mesmo mal. Das suas palavras sobressaíra duas - a credibilidade e a potencialidade. Estes dois adjectivos utilizados para caracterizar Portugal, transmitiram a ideia de um país com valor e pronto para qualquer desafio, ideia confirmada pela lista de exemplos positivos com a qual fomos brindados. Foram focados vários domínios, desde a Ciência e Tecnologia até à Cultura, passando pela Economia.  Destacaram-se também algumas personalidades como arquitectos e cineastas.

 

Tal como no Calcitrim, a comunicação foi simples, clara e objectiva e ninguém duvida do valor dos que foram nomeados nem da importância do que já muito foi alcançado pelos portugueses.  Mas também, tal como no Calcitrim, a desconfiança sobre quem gere o país é enorme e a certeza de que o que o Governo faz assenta em procedimentos pouco claros que se afastam dos parâmetros definidos é quase absoluta.  

 

publicado por Veruska às 19:20

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Segunda-feira, 23 de Abril de 2012

Interagi com 9 carros na Via do Infante... ou como dos números se retiram grandes conclusões


 

 

Hoje foi o meu primeiro dia de mais uma nova etapa da minha vida.  Depois de quase um ano de ausência voltei a trabalhar e não podia estar mais contente. Gostei de ver os colegas, contar as minhas aventuras da maternidade, embrenhar-me na burocracia e ir contra a maré de desânimo que invade tudo e todos.

 

Não me parece que muita coisa tenha mudado. Tal como acontecia o ano passado, continuamos todos desesperados em tentar cumprir todas as tarefas inerentes ao nosso trabalho garantido que todos os custos que lhe estejam subjacentes sejam os mais baixos possíveis desde os nossos ordenados até ao número de fotocópias/impressões que se podem efectuar.

 

Esta não é uma situação totalmente nova, já que a crise invade o nosso país cada dia que passa sem nos dar uma pequena trégua que seja. Os analistas políticos, económicos, etc., comentam esta e outras situações similares e por todo lado se expressa um descontentamento envolto em tristeza e receio de aquilo que o futuro ainda nos possa trazer.

 

As mudanças na sociedade atingem as várias áreas e não deixam incólume classe social, grupo etário ou profissional, salvo quem, por estar num patamar de elevado prestígio e disponibilidade patriótica, se vê numa situação em que todo o seu nível de vida se mantém, afastando-se assim do grupo de pessoas que necessita de aproveitar as promoções, evitar as auto-estradas, retirar os filhos dos colégios, etc, etc.

 

No passado, todas (ou quase todas) as conclusões que se retiravam assentavam na análise de indicadores que na maior parte das vezes se expressavam em percentagem, agora até isso mudou. Já não é a medida relativa que interessa, mas sim a absoluta como se pode ver do exemplo hoje noticiado: “De acordo com a AFP, o Tribunal Criminal de Lisboa condenou um arguido pelo crime de usurpação por ter partilhado ilegalmente na Internet as músicas Queda de um anjo, dos Delfins, Não há, de João Pedro Pais, e Right through you, de Alanis Morrisette”. 

 

Aqui o importante foram as 3 músicas partilhadas (embora confesse que ele devia ser preso por ter partilhado uma música dos Delfins, mas isso seria outro post…) e não o volume de partilhas.  Também na queixa que a AFP apresentou em 2006 na Procuradoria Geral da República o importante foram os 20 endereços que estavam a partilhar ilegalmente ficheiros e não a pequena percentagem de endereços a que eles correspondem no universo de quem partilha ficheiros.

 

Mas como a mudança não me assusta e eu sou uma mulher da Ciência, também me adaptei e agora já não me interessa a proporção em que os fenómenos ocorrem, mas sim a quantidade em que acontecem.  E começo já com a minha primeira pseudo-estatística: no domingo, dia 22 de Abril, fui de Faro a Portimão, ao início da tarde e cruzei-me com 9 automóveis.  Fui ultrapassada por 3, ultrapassei 3 e avistei mais 3 “ao longe”. 

publicado por Veruska às 20:30

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Quinta-feira, 19 de Abril de 2012

Hoje fui ameaçada... ou como isso não interessa nada porque o ministro Vítor Gaspar protege-me


 

No início deste ano civil, dirigi-me a uma loja EDP para esclarecer umas dúvidas sobre a tarifa bi-horária de consumo de electricidade, à qual pretendia aderir. Nesses dias atingia-se o pico da promoção EDP-Continente, em que a fornecedora de electricidade creditava no cartão Continente 10% do consumo de electricidade realizado por quem aderisse ao programa.

 

Desde que o meu filho nascera, que o consumo de electricidade disparara e depois de várias simulações e ponderações parecia-me que o melhor era passar para a tarifa bi-horária.  Cheguei a medo ao guichet onde pretendia ver esclarecidas as minhas dúvidas e logo após a saudação inicial sou prontamente confrontada e de forma muito simpática com a sugestão por parte do funcionário de aderir ao plano EDP/Continente. Recuso a proposta sem lhe dar grande importância e mais uma vez o funcionário me questiona sobre as minhas razões terminando com “olhe, que é a primeira pessoa hoje que recusa a adesão”.

 

Não dei importância ao facto e comecei a elencar todas as minhas dúvidas. Por várias vezes, me tentaram demover de aderir à tarifa bi-horária com argumentos que iam desde “olhe que o custo do kWh nas horas cheias é muito superior ao da tarifa normal” ou “não se esqueça que se ligar o aquecimento durante o dia, à noite a casa já está quente e ele não funcionará tão intensamente” ou mesmo “…e acha que consegue só utilizar as máquinas de louça e roupa depois da meia-noite???!!!”.

 

Continuei sem dar muita importância ao que me diziam e prossegui com os meus intentos. Cheguei a casa interiorizei que tinha de alterar alguns dos meus padrões comportamentais, elaborei uma grelha de excel com os consumos mensais e verifiquei logo na primeira semana, que já estava a poupar dinheiro (uma média de 15€ sem IVA para os meses em que tinha o aquecimento ligado) e ainda por cima mais do que pouparia se tivesse aderido ao plano EDP/Continente.

 

Sabia que não poderia controlar todas as variáveis da minha factura e sentia uma grande embirração com Imposto Especial de Consumo de Electricidade mas já estava resignada à minha sorte e esperava manter-me assim até à extinção das tarifas reguladas que aconteceria no final deste ano. Uma coisa era certa, não queria cá descontos em Cartão Continente (considerando os artigos que compro usualmente, o Continente tem os preços mais altos e aqueles descontos não me interessavam para nada).

 

Hoje recebo, juntamente com a factura de consumo eléctrico uma carta explicando-me que de acordo com o Decreto-lei 75/2012 de 26 de Março, a partir de 1 de Janeiro de 2013, caso não mude de comercializador, a tarifa transitória ver-lhe-á ser adicionada “um factor de agravamento, o qual visa induzir a adesão gradual ao mercado”.

 

Apesar de tal facto não ser novidade para mim, senti no ar algo mais do que um mero esclarecimento…  Receei, mais uma vez, ver os meus custos fixos dispararem mas rapidamente o alívio proporcionado pelas últimas declarações do ministro Vítor Gaspar invadiu a minha mente.  É que afinal de contas não é todos os dias que em Portugal “as pessoas estão completamente dispostas a sacrificar-se e a trabalhar mais para que o programa de ajustamento seja um sucesso desde que esse esforço seja repartido de forma justa”.

 

            Espero agora ansiosamente pelo final do ano, altura em que a EDP irá, sem sombra de dúvida, repartir parte dos seus lucros pelos consumidores.

publicado por Veruska às 15:23

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Segunda-feira, 16 de Abril de 2012

Hoje impedi um suicídio... ou como há um rei que não revela um comportamento aceitável


 

 

Hoje tive uma noite muito complicada. O meu filho de 4 meses decidiu(após quase 3 meses de descanso) choramingar, acordar e até gritar entre a meia-noite e as três da manhã.  Como me recuso a tirá-lo da cama por causa de uma birra, tentei de tudo para que ele se calasse ou pelo menos para que eu não o ouvisse (até utilizei a fantástica estratégia de desligar o intercomunicador…).

 

Finalmente, depois de beber 180 mL de leite, o miúdo calou-se e eu pude voltar para o silêncio do meu quarto e ficar acordada durante mais de uma hora sem compreender a alteração do padrão de comportamento do meu filho. Este período de insónia forçada fez com que acordasse (infelizmente, antes das 7 horas da manhã) cansada e com a gripe que assola o meu corpo desde a última sexta-feira entranhada nas minhas articulações e garganta.

 

Apesar de o meu corpo gritar por descanso e opor-se a uma caminhada de quase 2 horas ao vento frio, decidi não o ouvir.  Agarrei no leitor de mp3 certa de que umas músicas e uma paisagem de cortar a respiração me dariam a energia necessária para enfrentar o resto do dia e a esperança de que a próxima noite poderá ser mais tranquila.

 

Enquanto caminhava pensava em escrever um novo post, mas infelizmente o assunto não surgia e adiei mentalmente a tarefa. Dediquei-me então a reflectir sobre os últimos acontecimentos que envolvem a casa real espanhola.  Primeiro foi o facto do neto de Rei Juan Carlos ter dado um tiro no pé (facto que lembra o ocorrido no Estoril há muitos anos atrás que o levaram a assumir o trono) e agora a notícia de que teria partido a anca enquanto andava a fazer caça grossa no Botswana.

 

Senti repulsa pelo senhor desde que as fotografias que o colocavam de arma em punho perto de um elefante morto tinham sido reveladas. Acho aviltante tudo o que transparece dessas pequenas eternizações impregnadas de sofrimento animal e regozijo humano. E tudo isto vindo de um monarca de um país europeu, que revela assim um comportamento do mais desprezível que se pode imaginar.

 

Já eu, uma simples mulher de classe média pré-FMI, oriunda de uma família modesta, impedi que um homem se suicidasse na Ria Formosa em Faro (Ludo) esta manhã enquanto caminhava.

publicado por Veruska às 15:04

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