Sexta-feira, 4 de Abril de 2008

Disco D'ouro - Uma novela à antiga

Não gosto de trocar presentes por obrigação! Nunca gostei e penso que nunca gostarei. Ainda gosto menos quando, depois de investir algum tempo na procura do presente ideal que fará a felicidade de qualquer um independentemente do género, gosto ou idade, recebo em troca algo de que não gosto, não quero e que não me faz falta. 
 
É por essa razão que decidi dar um uso diferente a todos os monos que vou recebendo por aqui e ali, como o CD com uma eclética colectânea de música popular portuguesa, que recebi por altura do Natal. Elaborei um pequeno conto com os títulos das canções!
 
1.       Quim Barreiros – Garagem da vizinha
2.       Ágata – Amores trocados, Amores perdidos
3.       Tony Carreira – Quando eras minha
4.       Ruth Marlene – Bora bora daí
5.       Graciano Saga – Adeus a tudo
6.       Romana – Teu amor de mentira
7.       Fernando Correia Marques – A cabra Salomé
8.       Rebeca – Só o coração não esquece
9.       José Malhoa – Um pouco de ti
10.    Ana Malhoa – Já não espero
11.    José Alberto Reis – Vem morena vem
12.    Toy – Louco demais
13.    Suzana – Tu e eu, é só amor
14.    Fernando Santana – Vou confessar (tudo o que sinto)
15.    Broa de Mel – Faz-me esquecer esse amor
16.    Vinícius – Só preciso saber
17.    Nikita – Vivo dentro do mar
18.    José Reza – Uma vez na vida
19.    Ricardo e Henrique – Irresistível
20.    Manuela – Quem te dá amor sou eu
 
Capítulo I - Teotónio
 
Num quarto de uma casa pintada de um branco imaculado, com vasos de sardinheiras pelas varandas e situada numa rua tão tipicamente portuguesa, alguém falava ao telemóvel:
- Quando eras minha não era isso que dizias! – Afirmava Teotónio enquanto bocejava em frente ao espelho.
Na realidade Teotónio pouco estava a ligar à conversa. Havia já muito tempo que Rute não despertava nele qualquer desejo ou mesmo simpatia, mas como era um homem bem formado, lá ia atendendo as suas chamadas e aturando as suas crises existenciais. Como tudo tinha mudado. Ainda se lembrava da época em que aquela mulher lhe era irresistível e que ansiava por passar cada momento perto dela. Agora três meses volvidos já não sentia nada e por uma vez na vida queria estar sozinho.
            - Sim, claro…Pois…Pois…Só o coração não esquece
A vida de Teotónio era construída de amores trocados, amores perdidos e amores não correspondidos. Segundo ele, tinha azar ao amor e contrariando a sabedoria popular, também não tinha sorte ao jogo. Na realidade era um homem com um destino triste e na sua opinião nunca havia nada que lhe corresse bem. Claro que os amigos não compartilhavam desta opinião. Eles achavam que Teotónio era louco demais, estava sempre pronto a começar de novo e nunca negava uma aventura, quer ela fosse de natureza romântica ou não. Ainda se recordavam do dia em que depois de algumas semanas de ausência, ele chegou e gritou a plenos pulmões:
- Vivo dentro do mar!
Ninguém percebeu o que ele queria dizer mas também ninguém lhe pediu qualquer explicação. Já era costume este tipo de atitudes por parte de Teotónio e já ninguém o questionava, talvez por ele ser o único que vivia a vida que todos tinham ambicionado secretamente em crianças. 
           
Capítulo II – Ana Teresa
 
Ana Teresa tinha sempre a mesma rotina diária. Depois de acordar preparava rapidamente o pequeno-almoço dos seus dois filhos e do marido. Enquanto eles comiam ela aproveitava para tomar um duche rápido e depois ainda tentava fazer as camas lá de casa antes de sair para o trabalho. Já sabia que quando retornasse tinha de tratar dos miúdos, preparar o jantar, limpar a cozinha, arrumar a sala que tinha sido desarrumada pelo marido que ficava em casa todo o dia e ainda, se tivesse tempo, passar alguma roupa a ferro. Tinha uma vida desinteressante e pouco estimulante, mas só muito raramente se importava com isso. Todos os dias ouvia da boca dos colegas de trabalho que a vida estava difícil e o que era importante era levar um dia de cada vez.
E levar um dia de cada vez era o que ela sabia fazer melhor, pelo menos era a conclusão a que ela tinha chegado no dia de hoje. Devido a um mero acaso, surpreendera o marido com a cabra Salomé na sua própria casa e pior ainda, na sua própria cama. No seu íntimo ela sempre soube que o marido não era o melhor dos homens e acreditava mesmo que ele teria tido já várias aventuras, mas ser confrontada com a traição tinha sido um choque.
- Eu não quero o teu amor de mentira! – tinha ela gritado seca de lágrimas.
- Tu não estás a perceber. Isto não é o que parece!
- Como? O que me parece é que ela é agora o teu “amor”…
- Ana, ela não representa nada para mim! Faz-me esquecer esse amor.
- Já não espero nada de ti.
Tendo dito isto, Ana Teresa saiu de casa e caminhou sem rumo com a tristeza estampada no rosto.
 
Capítulo III – Teotónio e Ana Teresa
 
Quando se viram pela primeira vez, ambos sentiram aquela sensação de familiaridade que se tem quando se vê um amigo há muito tempo ausente. Olharam-se longamente até que o carro que saía da garagem da vizinha alterou o ritmo inexistente desse momento.
            - Bora bora daí – Disse Teotónio agarrando fortemente a mão de Ana Teresa e iniciando uma caminhada vigorosa. - Vem morena vem! Diz adeus a tudo!
Para Ana Teresa tudo aquilo parecia um sonho. Aquele homem apesar de parecer louco demais exercia sobre ela uma estranha e intensa atracção.
            - Vou confessar (tudo o que sinto)? – Pensava Ana Teresa enquanto corria com o cabelo ao vento e o olhar fixo no horizonte.  
            Não deram pelo tempo passar nem sentiram o cansaço provocado por tão enérgica corrida e sem saber como chegaram a uma praia de areal dourado, rodeada por falésias e com um mar ondulante e ritmado.
            - Só preciso de saber o que está a acontecer…Quem és tu? Onde estamos? O que queres de mim?
            - Eu só quero um pouco de ti… - disse meigamente Teotónio. – Quem te dá amor sou eu
            Para Ana Teresa aquela foi explicação suficiente para se atirar nos seus braços e deixar de pensar no passado e no presente. A partir daquele momento só se iria centrar no futuro que de desconhecido só não tinha o nome do companheiro.
            - Tu e eu, é só amor.
Foi a última frase que Ana Teresa ouviu antes de entrar naquela água azul que reflectia a luz do Sol na perfeição, criando um ambiente místico e fantástico. A memória das suas vidas foi rapidamente apagada pelo tempo e os dois viveram felizes para sempre rodeados de estrelas-do-mar, cavalos-marinhos e golfinhos.
 
 
publicado por Veruska às 22:38

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