Talvez por não ter ainda sido encontrada a sua explicação científica, o amor é sempre considerado como a “coisa mais linda do mundo”. Enquanto se ama de forma correspondida os dias parecem passar de forma muito veloz, o sono ou a falta dele deixa de ser determinante para o nosso bem-estar durante o dia e o sorriso é uma constante. Mas como em tudo na vida, tal êxtase não se mantém para sempre, chega sempre a altura em que o amor acaba e é necessário alterar as prioridades, adaptar-se à nova situação e sobretudo dormir, dormir muito…
É sobre este “fim” que me quero debruçar hoje. Mais propriamente sobre as semelhanças que existem entre um relacionamento amoroso e a iliteracia (o analfabetismo funcional, que impede as pessoas de compreender o significado de uma frase ou até de uma palavra).
A comunicação é essencial numa relação amorosa. Ambos os intervenientes devem interagir produzindo e recebendo as mais diversas mensagens e, para que o sucesso esteja presente, estas devem ser sempre entendidas. Quando falo em comunicação estou referir-me não só à verbal mas também à não verbal; todos sabemos que uma imagem pode valer mais do que mil palavras e é essa a única razão, mas mesmo a única razão, que nos pode levar a um relacionamento com homens que em vez de falar mascam pastilha elástica, que em vez de beijar, fazem uma pressão de elefante sobre a boca ou que em vez de acariciar a pele parece que lavam roupa suja num tanque!
Sendo estes homens portadores de belos glúteos tonificados por horas intensas de ginásio, fluentes em “ginasês” (linguajar muito utilizado por frequentadores assíduos de ginásios, spa’s e afins) e auto-intitulados “Love Personal Trainer” (LPT), seria de esperar que outras características como a sedução, o erotismo e até a facilidade na troca de ideias sobre generalidades também estivessem presentes. Mas na realidade não! Os LPT’s são homens com uma reduzida capacidade de comunicação, e por essa razão semelhantes a quem tenta escrever um texto sem conhecer a gramática.
Na redacção de um texto é essencial saber utilizar de forma correcta a pontuação: o ponto de exclamação, os dois pontos, as reticências, o ponto de interrogação, o ponto final…, pois é esta que lhe atribui a expressividade. Numa relação o mesmo acontece:
- é muito importante saber exprimir correctamente todos os sentimentos e emoções que nos invadem quando estamos apaixonados;
- é estimulante não dizer tudo, deixando que a imaginação faça o seu papel;
– é fundamental saber quando fazer uma pausa e enunciar as práticas sexuais que necessitam de ser melhoradas;
- é necessário dominar a arte de fazer uma pergunta de forma despercebida quando se desconfia de infidelidade;
- é imprescindível saber quando tudo chegou ao fim.
Relações sem emoção e ausentes de expressividade, correspondem a textos sem pontuação. É um facto que a iliteracia é um problema real - há quem não saiba o significado de um ponto final!