Nestes últimos tempos a espera é única atividade que pratico no meu tempo de ócio. Ora espero pelos dias de mais calor, ou pelo correio que me deverá trazer boas-novas ou ainda pelo descortinar do meu futuro totalmente obscuro. Acompanho essa espera por música; música de vários tipos e que poderiam espantar muitos dos que eventualmente podem ler este post (neste momento sou acompanhada por Astor Piazzolla).
Esta espera não é só levada a cabo aqui pela autora do blog, mas também por todos, incluindo até Olli Rehn que espera uma decisão sobre a situação em que está metido o nosso país. Na realidade, todos nós esperamos alguma definição sobre o que nos irá acontecer nos próximos tempos e tememos o desconhecido tal como os nossos antecessores nos tempos mais primordiais temiam os fenómenos astronómicos.
As soluções tardam a chegar e tudo o que se vai sabendo através de fugas de informação só ajudam a adensar este nevoeiro informacional e a incrementar o já receio sentido por quase todos nós. Talvez haja um vazio criativo na apresentação de propostas ou mesmo um desaire intelectual que impossibilite um desenlace positivo mas bolas, alguém terá de quebrar esta espiral de negativismo.
Eu atrever-me-ia a sugerir que fosse rapidamente chamado ao nosso país Diogo Morgado. Acredito que Pedro Passos Coelho teria muito a aprender com esse Hot Jesus (título pelo qual o Diogo é conhecido nos EUA), esse ator de telenovelas com um sucesso mediano em Portugal, mas que consegue a fama graças ao seu bom aspeto e claro, ao seu empenho.
Penso que nem seria tarefa difícil para Passos Coelho pois uma das anteriores premissas já ele a possui; falta-lhe é a outra metade!
Assim que o meu filho nasceu, e depois de saturada da música clássica adaptada a bebés, percebi que afinal ele acalmava mais facilmente ao som dos meus cd’s. Comecei com um imberbe Justin Timberlake ao qual se sucedeu uma Jane Monheit mais madura e com toquezinho de bossa nova. É ao som desta cantora que ele agora adormece, e não é por a sua música ser enfadonha ou monocórdica.
Não pretendo com isto, garantir que o meu filho seja culto. Apenas pretendo que adormeça rapidamente e me deixe sossegada a escrever os meus tão oportunos post’s. Mas como a repetição só funciona bem se for uma figura de estilo, encetei nestes últimos dias uma revolução cultural cá em casa e agora uma das grandes preferências do meu filho de 6 meses é a Emeli Sandé, embora esta senhora também já me esteja a levar à loucura.
É também uma revolução cultural que o cardeal patriarca de Lisboa defende como resposta à crise. Como qualquer solução é sempre bem vinda, há que a aplicar em tempo recorde, sem haver lugar a grande morosidade. Foi o que aconteceu no Porto. Assim que foram conhecidas as sugestões de Dom José Policarpo, a Porto Menu, resolveu aceitar o repto e aplica-las de imediato.
O veículo foi o seu Guia de Restaurantes, Cafés e Bares. Com ele pretendeu-se incentivar a aprendizagem da gramática portuguesa, partindo de um exemplo simples, curto e simbólico. Na lição disponibilizada pela capa do já referido guia, vê-se a frase “Rio és um fdp” ficando o exercício de análise a cargo de cada um de nós. Há quem pense que tal frase possa ser uma ofensa dirigida ao autarca Rui Rio, mas nada disso. Ela é tão somente um ensinamento que nos permite concluir que "Rio" é um substantivo próprio que significa um curso de água e o resto são três iniciais, um verbo e um artigo".
Aproxima-se a Primavera e as novas tendências para esta estação começam já a surgir embora de uma forma tímida. Este ano irão usar-se calções muito curtos, vestidos assimétricos e de preferência também muito curtos e acessórios como grandes cintos, colares e lenços. Mas a moda é mais do que vestuário, ela é uma tendência de consumo e por essa razão afecta a vida de cada um de nós em todas as vertentes que se possam imaginar.
A moda reflecte também os tempos que vivemos e adapta-se às diferentes realidades sociais. Sendo a crise a nossa realidade, nesta nova época Primavera-Verão, os comerciantes em conjunto com todos aqueles que possuem bens e serviços para vender adoptaram novas estratégias sem nunca relegar para segundo plano a tendência marcadamente sexual daquilo que vestimos hoje em dia.
Para que se possa compreender melhor o que digo exemplifico com duas das minhas próprias experiências deste fim-de-semana que ainda não acabou: a peça de teatro Shopping and Fucking e a promoção da loja Tezenis da Rua de Santo António.
Ora a peça Shopping and Fucking pretendia levar à reflexão “sobre a sociedade de consumo, a globalização, a violência e o corpo, questões que definitivamente se instalaram na sociedade portuguesa e nas artes”. Da peça ficou pouco de shopping e muito de fucking, tal foram as cenas de sexo simuladas entre os vários actores em palco – viram-se mamas, rabos e até se imaginaram pilas…
Já em relação ao comércio tradicional, este resolveu implementar uma estratégia mais arrojada vendendo não só bens, mas disponibilizando estes em conjunto com a prestação de alguns serviços a preços mais vantajosos para os clientes. Na loja de lingerie que já referi anteriormente a promoção consistia em adquirir um conjunto de “soutien e queca” por menos de 10 euros, preço que me parece bastante razoável e acessível.
Face à conjuntura actual de crise de relacionamentos, parece-me que a partir de segunda-feira será necessário reforçar a segurança da loja em questão devido à massiva afluência de clientes que de certeza irá acontecer.
Sou uma pessoa interessada pelo mundo que me rodeia e, como gosto de pensar, minimamente informada. Neste momento não se fala de outro assunto que não seja a crise financeira mais agravada nos EUA embora seja um problema global. Em virtude de ter uma vida social intensa (por incrível que pareça é mesmo possível ter uma vida social intensa no Algarve…) e uma rotina diária que começa cedo e acaba tarde, raramente vejo noticiários. Por essa razão, o meu conhecimento da realidade restringe-se à leitura de algumas revistas que, muitas vezes, é feita já muito depois de terem estado nas bancas (sinto-me triste por não conseguir dar vazão às publicações que chegam à minha caixa de correio e a todas as outras que compro…) e à consulta de alguns sites.
Numa destas noites chego a casa e ao ligar o televisor sou confrontada com a ideia de que a Islândia poderia estar na bancarrota. Pareceu-me impossível o país da Bjork, dos vulcões e com um dos maiores índices SWB (subjective well-being = índice da felicidade) do mundo estar numa situação tão grave. Na altura não sabia ainda porquê, mas tal notícia em conjunto com a crise financeira mundial não suscitou em mim qualquer tipo de preocupação nem sequer a vontade de discutir o assunto com os amigos; pura e simplesmente o assunto não me interessava – não tenho dinheiro investido em acções, nem sequer tenho uma poupança digna desse nome e por isso um crash financeiro se calhar até era uma coisa boa!
É a partir dessa altura que sinto que dentro de mim algo estava a mudar: a vontade de não levar trabalho para casa, a urgência em arrumar o meu escritório (arrumar à séria; dividir as coisas em montes já não me satisfazia), o prazer em ensacar quilogramas de papel para reciclar e até o desejo, embora tímido, de deitar algumas roupas fora. Não sei se eram os chakras que estavam finalmente alinhados ou se seria a alma que estava definitivamente limpa, mas sentia-me cada vez melhor. Esta sensação de bem-estar levou até a uma ida a um Spa para fazer uma sessão de talassoterapia (só posso dizer que foi muito bom; houve jactos de água que se aventuraram por caminhos cujo acesso se faz apenas com autorização expressa da interessada).
Foi aqui que percebi que afinal eu sou muito melhor que qualquer islandês ou islandesa: o mar está diariamente presente na minha vida, o Sol é uma constante seja Verão ou Inverno e também eu estou quase na bancarrota. Agora sim, tenho a certeza de que sou uma pessoa muito feliz.