Num ano situado algures na primeira década do milénio, um acontecimento fortuito plantou em mim a necessidade de escrever alguns textos reflexivos que eram posteriormente partilhados com algumas pessoas e que viriam constituir a fase embrionária deste blog. Esse acontecimento prendia-se com a disparidade existentes entre o meu corpo e o meu aspeto facial, que levou uns jovens a afirmarem em pleno corredor de material de papelaria no Jumbo que eu tinha um corpo muito giro mas uma cara de velha.
Talvez oito ou nove anos passaram desde este acontecimento, mas o que é certo é que ao longo de quase esta década, posso ter melhorado em muitos aspetos, mas a gordura instalada mantém-se grudada a todas as partes do meu corpo e as rugas a medo lá se vão aparecendo (é verdade, já tenho uma ruga). Agora que sou uma doente cardíaca, os ultimatos são constantes: tem de perder nem que seja meio quilograma; vá correr todos os dias; uma passadeira nem ocupa muito espaço depois de arrumada…
A pressão que advém das palavras sábias e ameaçadoras do meu cardiologista – Veja lá, se agora aos 40 anos, quer ficar doente como se já não fosse jovem… - têm não só alterado a minha rotina, mas também preocupado todos os que me rodeiam. Agora não há situação em que não tenha de explicar o que tenho, porque tenho, o que estou a fazer e como estou a fazer etc, etc.
Curioso é perceber que as posições e conselhos e tudo o mais que é opinado sobre mim, se extremaram. Ontem no ginásio, disseram-me que era impressionante eu estar com problemas de saúde: se eu tinha o aspeto que tinha e era doente cardíaca, como não estariam os comuns mortais. É óbvio que a descarga emocional provocada por tais galanteios foram suficientes para me motivar numa corridita e em mais uns minutos de elíptica.
O problema foi quando cheguei ao meu local de trabalho e um colega veio ter comigo, abraçou-me e sussurrou-me ao ouvido: será que os teus problemas de saúde não terão a ver com o teu excesso de peso??!!
Ainda bem que os putos do Jumbo já não sabem quem eu sou.
Há várias décadas atrás trabalhei numa fábrica de colas. Colas de muitos tipos: as brancas, as de contacto, as de caseína e mais um ou outros tipos. Nesses anos (acho que chegaram a ser anos) muito aprendi. As formulações das colas brancas quase não tinham segredos para mim; a contratipagem (cópia formulações) de produtos da concorrência era um desafio sempre desejado e ansiedade sobre as propriedades de cada lote da cola de caseína são impossíveis de esquecer.
Nesses tempos que já vão longe, outras memórias continuam ainda mais vívidas que as anteriores – a condução no carro velhinho sem a manete das mudanças, o misturador da cola de azulejos avariado que de forma aleatória caía e punha em risco a integridade dos já poucos operários, as pragas de pulgas que me obrigavam a não visitar a fábrica como forma de retaliação das insuficientes condições de trabalho e os operários. Os poucos operários, simpáticos, humildes e trabalhadores. Os melhores e mais jovens já há muito tinham ido embora, intuindo que tudo aquilo iria fechar e que a única coisa que restaria seria uma das suas mãos à frente e a outra atrás.
O meu dia era intenso. Chegava muito cedo, para evitar o trânsito infernal de Lisboa, e cedo saía também, para chegar a horas ao ginásio (fazendo talvez uma centena quilómetros de por estradas alternativas que incluíaa o bairro da Musgueira e a verdadeira e velhinha calçada de Carriche). Mas nada disso interessa para este texto, que de repente me traz à memória emoções que há muito estão ausentes do meu ser.
Enquanto o meu ordenado suportou, almoçava sempre fora, muitas das vezes num restaurante familiar muito simpático a poucos quilómetros de distância das instalações da fábrica. Nunca mais esqueci dois dos sabores que eram recorrentes nos seus menus semanais: a sopa de nabiças e a mousse de chocolate com cheirinho. Se da sopa pouco há a dizer exceto que o seu aroma e proporção de nabiças de corte perfeito a elevavam ao nível de iguaria, já da mousse poderia ser escrito todo um romance em torno dela.
Não sei bem como tudo começou, mas de repente todas as refeições que lá eram feitas terminavam sempre com a dita mousse caseira fresquinha e escolhida pela cozinheira ou empregado, mãe e filho. Disso até ao cheirinho na mesma decorreu um tempo que não sei precisar. Só me lembro que de repente quer eu, quer as colegas com quem almoçava só pensávamos na mousse com cheirinho (talvez bagaço ou uísque) que nos alegrava o caminho de volta à fábrica e transformava a tarde que ainda restava num período de intensa produtividade.
Hoje compreendo a postura do empregado que curiosamente tinha de profissão condutor de camião do lixo, pois já nessa altura, o álcool devia ser uma constante a avaliar pelas vezes que nos cruzámos em pleno Bairro Alto com a consequente festa que muito admirava as minhas amigas e os senhores do lixo pendurados no camião.
Ainda bem que já se fez jurisprudência sobre o assunto e que a partir de agora talvez a melhor estratégia para a nossa tristeza no local de trabalho seja o álcool que leva os trabalhadores a “esquecerem as agruras da vida e empenharem-se muito mais”.
Fonte: ionline
Vítor Gaspar desafia os deputados a apresentarem propostas de cortes nas despesas. Afinal vivem-se momentos de intensa austeridade e o parlamento deverá também ele tentar reduzir a sua fatia de gastos, tal como os restantes portugueses têm feito ao longo destes últimos tempos.
Não tento fazer aqui um exercício de demagogia, mas sim contribuir com sugestões plausíveis, de aplicação muito prática e que estou certa, granjeariam por parte dos deputados e outros trabalhadores da nossa democracia um afeição desmesurada.
1º) Existência de apenas comida vegetariana nas cantinas/bares das instituições públicas
Hoje celebra-se o Dia Mundial da Alimentação e de acordo com os especialistas, “a população mundial terá de mudar totalmente para uma alimentação vegetariana nos próximos 40 anos se quiser evitar uma catástrofe alimentar planetária”. Como o exemplo vem de cima, devem ser os nossos políticos a iniciar esta tão grande mudança.
Ah, claro que quando sugiro a comida vegetariana, não estou a falar de tofu, soja e todas aquelas outras “mariquices” importadas e caríssimas. Refiro-me a uma singela salada de alface, com uma rodela de tomate daqueles meio esponjosos e sem sabor. Poderá acrescentar-se um pouco de curgete de vez em quando, de preferência comprada quando não está em promoção no Continente.
Vamos evitar também o feijão verde que esse também está pela hora da morte. E a rúcula também seria de banir porque é um legume muito chique e conotada com uma certa classe social.
Na área das frutas aconselharia apenas o abacaxi importado da Costa Rica. É das frutas mais baratas por aqui(no Allgarve, leia-se); em dia de promoção consegue ser 1€ mais barato do que as maçãs e as peras.
2º) Incentivar o consumo de peixe-espada preto para os que não conseguem mesmo ser vegetarianos
Isso das cavalas e sardinhas só beneficiam mesmo a saúde de cada um. Quando se pensa em redução de custos o melhor é mesmo promover o consumo de peixes altamente contaminados com metais pesados, como é o caso do peixe-espada, e esperar que os que o consomem desenvolvam doenças mortais e morram enquanto esperam por vagas nos hospitais.
Esta medida além de poupar dinheiro, vai também de encontro ao pretendido pelo ministro Miguel Macedo, visto que em última análise os médicos poderão vir a ter mais disponibilidade para consultar novos pacientes.
3º) Taxar todos os jogos de sorte/azar
À semelhança do que se vai fazer com o Euromilhões, a Lotaria Nacional, a Lotaria Instantânea, o Totobola, o Totogolo e o Totoloto julgo que se deveriam taxar todos os jogos.
Penso que seria importante começar pelos jogos “da batota” dos reformados. Porque não cobrar também a taxa de 4,5% nas apostas de uma “suecada” ou de uma “busca”. E, claro, que aqueles que jogam a feijões também não estariam isentos. Uma percentagem devia ser cobrada e aplicada na sopa diária vendida nas cantinas e bares da Assembleia da República.
E quando tudo falha, porque não rebentar com umas caixas multibanco para arranjar umas notas???!!!!! Mesmo que sejam só de 20 euros, já dão para pagar uns jantares…
. Para mim já não há piropo...
. Fui amiga do motorista do...
. O desafio de Vítor Gaspar...
. Uma experiência quase cie...