A noção de sucedâneo é fabulosa e só tomei consciência dela no início da minha vida adulta e tudo graças aos chocolates. Até então, o meu gosto por essa iguaria era muito limitado, quer por não existirem em quantidade abundante nas mercearias, quer por os meus pais os comprarem de forma muito parcimoniosa.
Com o advento dos super e hipermercados, os chocolates baratos tornaram-se um produto abundante. Relembro, embora sem saudade, os chocolates espanhóis baratíssimos que começaram a aparecer lá por casa e que se chamavam sucedâneos. Não sabia muito bem o que eram, mas como até nem sabia mal, eram comidos “à boca cheia” - a minha forma preferida de comer chocolate – e nunca eram demais.
Cresci, amadureci e a oferta no mercado das tabletes tornou-se maior e as grandes marcas chegaram até nós. O meu gosto evoluiu e a minha carteira também. Agora praticamente só me limito ao Lindt´s e a dois produtos de marca branca e tendo passado a abominar os referidos sucedâneos. Aliás, passei a não consumir, do ponto de vista gastronómico, qualquer sucedâneo de menor qualidade, reservando esse grupo para produtos em que não considero o grau de excelência um fator decisivo de compra.
Descobri ontem, que afinal não uso sucedâneos só no uniforme escolar do meu filho. Pelos vistos, também na Democracia este artigo substituto está em voga. De acordo com a Comunicação Social, o nosso Presidente da República considerou que a última avaliação da Troika foi uma “inspiração da Nossa Senhora de Fátima do 13 de Maio”, agindo não como o chefe máximo da nossa Democracia mas sim como um singelo evangelizador encontrando respostas no divino para as questões dos homens.
É mais um sucedâneo que substitui o produto original!
Não é que seja uma fã incondicional de Manoel de Oliveira, mas posso dizer que alguns dos seus filmes fazem parte dos meus preferidos. Mais concretamente, A Caixa, que visionei pela primeira vez num dos canais da TV Cabo especialista em passar filmes com mais de 10 anos e muitos deles com sucesso comercial bastante duvidoso.
Nessa tarde que já não consigo localizar no tempo, sou confrontada com uma imagem de Luís Miguel Cintra a fazer de ceguinho agarrado à sua caixa de esmolas. Todos a cobiçavam e almejavam fazer dinheiro de maneira fácil sem para isso realizar nada que não fosse um simples peditório. Dos diálogos jamais esquecerei a frase “Mas vossemecê, não é ceguinho…” entoada com a carga de sofrimento de quem sofria uma limitação para a vida.
Ora, foi algo semelhante a isto que aconteceu na passada quinta-feira. Recebo uma caixa lilás, com a inscrição “Bolos & Bolachas Milka” que desencadeou a maior confusão no meu local de trabalho, tendo ela sido anunciada perante todos os que se encontravam na sala de trabalho com um tom em que se destacavam a curiosidade com uma pontinha de inveja – “Esta caixa é para a Veruska!”
Estando eu afónica nesse dia, limitei-me a receber a encomenda, sorrir e deslumbrar-me com o seu tamanho, intuindo sobre o festim que iria atingir a minha casa nos próximos dias. Apesar de saber que acima de tudo, teria de ter uma postura altamente profissional, independente e à prova de condicionamentos, sentia-me muito feliz por ter esta tarefa de degustação de “Bolos e Bolachas Milka”.
O que não sabia é que apesar de não viver numa rua inclinada, todos aqueles com quem me cruzaria e que me visitariam nos dias que se seguiriam, iriam invejar a minha caixa lilás. Só que ao contrário do ceguinho do filme de Oliveira, o conteúdo é mesmo para partilhar!
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