Muito se tem falado da sustentabilidade económica do nosso país e de como os nascimentos são absolutamente necessários para garantir a substituição das gerações. Por cá a coisa não está bem. As famílias debatem-se com extremas dificuldades, a vontade em ter filhos vai diminuindo e a ação de procriação torna-se cada vez mais reduzida. Mesmo quem os tem, faz questão de discursar no sentido de esperar um futuro brilhante para a sua prole mas fora do nosso país, incentivando os miúdos amorfos, sabe-se lá com que estratégias.
Por a taxa de natalidade ser tão reduzida medidas impõem-se. Recentemente o fulcro da questão centrou-se nos impostos. Quem tem filhos deveria ser beneficiado, quem não os tem seria consequentemente prejudicado. Tudo é explicado de forma tão intricada que duvido que algum cidadão, (e eu até tenho um curso superior), consiga perceber e quantificar exatamente o que poderá suceder num futuro próximo. Na realidade duvido que venha a existir algum benefício, embora tenha a certeza que prejuízos não irão faltar. Curiosamente, no Japão, falou-se em distribuir às famílias preservativos furados; essa sim uma medida controversa, embora no seu âmago fosse levar ao mesmo resultado que as medidas a aplicar em Portugal; até o grau de incompreensão sobre porque é que se ia ter um filho seria o mesmo.
Claro que há quem veja mais além. Quem queira trabalhar de uma forma proactiva em prol desta nação. Quem sinta que deva tentar a sua sorte num ambiente de loucura em que se calhar nem há preservativos e se foge aos deveres fiscais. Depois do desfile de motas da concentração de Faro (é verdade fui, ver), ao afastar-me em direção ao carro com o meu filho de 2 anos pela mão, fui abordada por um motociclista. Disse-me para ir com ele no desfile. Sorriu-me, convidou-me várias vezes e ainda me aliciou com o facto de ficar viciada na coisa se experimentasse com ele. Ah, o cheiro da gasolina deixa qualquer um em extâse!
Eu sei que parece difícil de acreditar, mas no fim-de-semana que passou participei, pela primeira vez, num evento algarvio que ocorre desde há 28 anos a esta parte – a Concentração Internacional de Motos de Faro. Faça-se já aqui uma pausa, de forma a garantir que fui apenas uma mera espectadora não tendo tido praticamente qualquer intervenção nas várias encenações que decorreram no recinto.
Nestes últimos anos em que tenho vivido no Algarve, poucos foram aqueles em que me mantive por Faro durante o período de celebração motard, tal era a minha rejeição em relação a este tipo de convívio. Tinham-me falado das motas, da fauna estranha existente no recinto, do consumo de cerveja levada ao limite, do striptease contínuo, dos concertos e até da mítica Natacha a eterna miss T-shirt molhada e nada disso me interessava.
Mas devido a uma sucessão de acontecimentos lá me vi em cima de uma Yamaha TDM 900 a caminho do Vale das Almas. Inscrevi-me no acontecimento, usei a pulseira cor-de-laranja, comi pó, vi os concertos (com tristeza constatei que o vocalista dos Europe já não é loiro, não veste roupas futuristas e interpreta clássicos como o Stand By Me) e promovi a actividade económica no recinto ao conseguir enfiar uma bola num balde de alumínio, coisa aparentemente fácil mas difícil de concretizar pelas dezenas de másculos motociclistas que acusavam o dono da barraca de vigarice no jogo.
Apesar do ambiente sereno e mais saudável do que em qualquer concerto ou festival de Verão, por uma ocasião senti medo. Estar sem ninguém conhecido por perto, em frente ao palco rodeada por motard’s com 2 metros de altura e de largura durante um dos shows de striptease e sem rede no telemóvel é uma situação desconfortável e que se deseja curta.
Apesar das expectativas não serem muito elevadas, o balanço é francamente positivo e registo mesmo como ponto máximo de todo o evento a entrada de mota no recinto (algo que só ocorreu uma vez, com muita pena minha…). Outra das situações mais emocionantes foi uma deslocação à ilha de Faro onde tomei contacto com uma realidade totalmente desconhecida para mim, repleta de ilegalidade, perigo e adrenalina e que, estou certa, servirá de inspiração aos próximos post’s do meu blog.
Foi mesmo mais uma experiência sociológica que não sei se repetirei, mas que ficará para sempre gravada na minha memória.