No passado, imaginei neste dia de São Valentim um mundo repleto de fantasia em que todos seríamos peões de uma realidade sublime, plena de beleza, encantando todos com quem nos cruzássemos e inspirando qualquer ser, independentemente da sua natureza. Concebo que cada um de nós, durante esse dia, fosse capaz de pronunciar palavras com um timbre capaz de inebriar os anjos, uma altura capaz de emocionar os passarinhos e uma intensidade capaz de desencadear uma harmonia impossível de descrever. Durante essas fantásticas 24 horas, o movimento dos planetas deixaria de ser importante, a Lei da Gravitação Universal deixaria de comandar os nossos movimentos e todos flutuariam num éter pleno de maravilha.
Hoje, volvidos 365 dias, considero com grande pena minha, que a poesia embebe a existência de alguns que travam esta batalha da sobrevivência mas que me exclui de forma violenta de mais esta demanda do Universo.
Falo em concreto das profissionais de medicina plenas de beleza com pernas suaves e sem vestígio de pelo que de certeza encantam todos os que com elas se cruzam. Tenho a certeza que desde 2009, altura em que foi pela primeira vez detetada a burla, que de voz fininha e sussurrada lá iam contando às amigas que agora “se estavam a livrar dos pelos”. Era assim como se fosse uma coisa higiénica. E lá iam estes murmúrios ecoando pelos corredores do Hospital de São João do Porto, assim como se de piares harmoniosos se tratassem.
Uma coisa puxa a outra, e outra e outra e de repente esta nova maravilhosa descoberta levava a uma outra tão mais importante do que a Lei da Gravitação Universal – afinal era possível fazer este tão caro processo de depilação com comparticipação pela ADSE. Sim, era um benefício de apenas aqueles que trabalham para o estado, mas isso não interessava assim tanto. O importante é que os pack’s de depilação a laser podiam ser considerados atos médicos equivalentes a consultas de dermatologia; afinal estava-se a eliminar esse mal que era o pelo.
Sim, durante algum tempo, essas senhoras flutuaram num éter pleno de maravilha em que as suas axilas, perninhas, púbis “todas limpinhas” comandavam um cérebro determinado, confiantes de que afinal aquilo que faziam nem seria uma burla mas apenas um corte nas despesas em sentido inverso!
Para mim há algo que deveria marcar o Dia de São Valentim. Não quero saber da cor vermelha (ou encarnada), se as setas do cupido me atingem no coração ou mesmo se o homem dos meus sonhos acorda junto a mim e me dá um beijo em vez da tosse cavernosa que insiste em partilhar comigo. Para mim, o importante é mesmo a POESIA que deveria ser transversal a todas as situações quotidianas nesse dia de 14 de Fevereiro.
Imagino mesmo um mundo repleto de fantasia em que todos seríamos peões de uma realidade sublime, plena de beleza, encantando todos com quem nos cruzássemos e inspirando qualquer ser, independentemente da sua natureza. Concebo que cada um de nós, durante esse dia, fosse capaz de pronunciar palavras com um timbre capaz de inebriar os anjos, uma altura capaz de emocionar os passarinhos e uma intensidade capaz de desencadear uma harmonia impossível de descrever. Durante essas fantásticas 24 horas, o movimento dos planetas deixaria de ser importante, a Lei da Gravitação Universal deixaria de comandar os nossos movimentos e todos flutuariam num éter pleno de maravilha.
Não existiriam preconceitos, comportamentos inadequados e nem sequer nada que não fosse belo. Tudo o que diríamos seria importante para quem ouvisse, e as palavras pronunciadas seriam leis que comandariam de forma nobre todos os nossos sentimentos. Não interessaria a métrica, nem se existia rima; o importante residiria na componente emotiva do que fosse declarado.
Infelizmente o meu dia dos namorados não foi assim. A poesia não chegou até mim de nenhuma lado. Flutuar foi impossível face ao meu ligeiro excesso de peso e nem sequer o que pronunciei deve ter sido importante para os que me rodeiam. No entanto, congratulo-me por saber que afinal pelo menos Francisco José Viegas esteve imerso em POESIA (embora de caráter moderno) e tenha elevado as comemorações do Dia dos Namorados a um outro nível.
Numa noite que se pretendia romântica, três mulheres e três homens fecharam-se numa casa rodeados por duas câmaras – uma de filmar e outra de fotografar. A decoração em tons de vermelho e rosa primava pelo bom gosto, as velas acesas criavam um ambiente intimista e a música que se ouvia embalava cada um dos protagonistas num sonho impossível de explicar.
A escolha dos intervenientes recaiu em três charmosas senhoras de grande inteligência e com atributos impossíveis de listar, em virtude do espaço disponível para este texto ser demasiado pequeno. Já no que diz respeito aos cavalheiros, eles foram escolhidos após um complexo e rigoroso processo de selecção, que incluiu vários testes para avaliar a sua disponibilidade para o amor, a sua capacidade de escolha de um bom vinho, a sua habilidade para dançar ao som de ritmos latinos, o seu sentido de humor e a sua elevada resistência física a ingredientes que são tidos como afrodisíacos.
O menu requintado dessa noite incluía vários alimentos cujas propriedades levavam ao despertar de sentidos e de emoções há já muito tempo adormecidas: o gengibre, os coentros, as nozes, a pimenta, o chocolate, a canela…É de salientar desde já um pequeno erro de casting – uma das intervenientes não tolerava o sabor ou aroma da pimenta, canela ou mesmo de especiarias mais exóticas. Caso tal evento se tratasse de uma experiência científica e não de uma mera confraternização, facilmente se teria explicado a razão pela qual tal senhora não esteja, actualmente, envolvida romanticamente com qualquer cavalheiro…
Tal como em qualquer reality show não existia um roteiro definido e pretendia-se apenas que cada um dos protagonistas mostrasse a “vida como ela é”. Assim sendo, logo desde o início tudo correu como previsto. Quem tinha tido um dia agitado e com muitos compromissos foi pontual, quem morava mais perto e não tinha tido nada para fazer chegaria atrasado. A anfitriã recebia cada um que chegava com um sorriso de tamanho imensurável e alegria genuína. Logo nos primeiros minutos a inibição provocada pela presença das câmaras desapareceu e já ninguém sentia que elas estavam lá.
As garrafas de vinho foram-se alinhando e como de surpresa só se pretendia o conteúdo das cartas de amor, cada protagonista foi lendo a brochura informativa, sobre os efeitos físicos que poderia experienciar após a degustação de tão afrodisíaco manjar. Esses efeitos incluíam a estimulação do sistema circulatório, o aumento na produção de sémen, o aumento do desejo, a irritação dos órgãos genitais e da região urinária e o aumento da sensação de bem-estar. Sentiu-se desde logo um pequeno desconforto: tratava-se de uma quinta-feira e no dia seguinte todos teriam de acordar cedo para ir trabalhar; dormir sozinho sob o efeito de tão poderosos ingredientes poderia levar a “baixa médica” por período indeterminado.
Após o jantar, e dando cumprimento à tradição associada ao Dia de São Valentim, foram trocadas cartas de amor. Todos ficaram emocionados e logo surgiram os agradecimentos e carinhos. Para que tudo terminasse da melhor forma possível, de imediato o espaço se transformou e a banda sonora também. A música de inspiração latina soava e dois casais resolviam arriscar na salsa, na bachata e até no tango. Quem não dançava registava em fotografia ou em filme tudo o que acontecia.
Como notas negativas ficam o desconforto que sente quando se permanece por longos períodos de tempo em ambientes pouco iluminados e a dificuldade que a anfitriã teria em fintar a vizinha do andar de baixo nos dias que se seguiriam, com medo que esta se tornasse violenta depois de ter tido dificuldade em dormir nessa noite.
No dia seguinte todos acordaram bem dispostos e com vontade de repetir este formato audiovisual apesar de este não contemplar um prémio final em dinheiro, tão usual em outros “reality show’s”. Na sequência deste evento, saiu mesmo a intenção de declarar o dia 14 de Fevereiro não só o Dia dos Namorados mas também o Dia dos Encalhados.
. Coisas esquisitas que sur...
. Mais um São Valentim... o...
. Um jantar afrodisíaco... ...
. Um jantar requintado ... ...
. Uma experiência quase cie...