A palavra bilhete pode ter vários significados, mas quando associado a um espectáculo só pode corresponder à admissão do mesmo. Por essa razão nunca estranhei que para se aceder a uma projecção cinematográfica, a uma peça de teatro, a um evento desportivo ou sabe-se lá que mais, fosse necessário esse documento.
Actualmente é prática comum emitir bilhetes, mesmo para espectáculos gratuitos. Esta prática que visa otimizar a atribuição de lugares e evitar que magotes de pessoas se desloquem aos locais onde decorrem os já referidos espectáculos não é alvo da minha simpatia. É recorrente muitas dos indivíduos que conseguiram os ingressos não assistirem ao espectáculo prejudicando quem não conseguiu lugar ou quem ficou em lugares piores.
Não sei se a justificação para os problemas surgidos hoje no treino da Selecção no Estádio Municipal de Óbidos estará relacionada com o anterior descrito, mas mesmo que as semelhanças sejam inexistentes, é compreensível que a indignação assalte quem quis assistir à preparação dos nossos futebolistas e não conseguiu. O que é certo é que “contas feitas, entre bilhetes distribuídos, “intrusos” e “indignados” o primeiro treino com a selecção completa foi presenciado por cerca de 3000 adeptos” e tudo de graça.
Já em Lisboa, existe um projecto – o Alfama-te - que tenta aliciar pessoas a entrarem em festas sem convite. Segundo explica um dos mentores do projecto na revista do Expresso de 19 de Maio, é possível organizar uma festa de aniversário, com um mínimo de 50 convidados, que pagarão o seu jantar, desde que se esteja disposto a deixar entrar pessoas que não se conhecem de lado nenhum. Numa primeira impressão poderá pensar-se que os penetras destas festas “levam a melhor” pois não é todos os dias que se consegue comer e beber sem pagar, mas na realidade nem tudo é o que aparenta. Quem quiser participar nestas “crash parties” terá de pagar bilhete. Existem mesmo duas modalidades de ingressos: a regular ou a low cost para quem se fizer acompanhar de uma prenda para o aniversariante.
O conceito é tão novo que nem consigo opinar sobre se ele me agrada ou não, mas tenho a certeza de que em breve ele será adoptado por muitas outros projectos, organizações e instituições e quiçá, mesmo pela Selecção Nacional de Futebol. A sua aplicação é praticamente ilimitada e imagino já um senhor a cobrar um valor simbólico por cada invasão de campo no final dos jogos.
A única justificação que apresento para não escrever seguindo o novo Acordo Ortográfico é que “não quero escrever assim”. Não é que seja uma pessoa teimosa, mas quando não quero fazer uma coisa, não a faço e como não me apetece escrever de acordo com a nova grafia, não escrevo.
Sempre achei que esta transição teria de ser uma coisa natural para mim. Algo que surgiria sem grande esforço da minha parte. Já tinha sido assim com a condução, com a transição do escudo para o euro e até com a maternidade. Claro que começo a baixar a guarda, pois ao fim de mais 3 anos de vigência do Acordo estou já um pouco baralhada e por algumas vezes, desejei mesmo que esta transição pessoal já tivesse acontecido.
Tal posição sobre o assunto não se deve ao desconhecimento das novas regras. Eu sei que foram inseridas novas letras no alfabeto, que não se pronuncia o que não se lê, que há supressão de alguns hífens e de alguns acentos gráficos, etc., mas desconhecia que algumas palavras também passavam a apresentar novos significados.
É o caso da palavra “festa”. Para mim, e também para o dicionário da Porto Editora, o seu significado corresponde a “solenidade religiosa ou civil; comemoração pública periódica ou ocasional em honra de um acontecimento ou pessoa; reunião social para convívio e diversão, geralmente com música e dança; banquete, festim; demonstração pública de alegria.
Ontem, depois de ver a antiga Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmar numa comissão parlamentar “o programa da Parque Escolar foi uma festa para as escolas, para os alunos, para a arquitectura, para a engenharia, para o emprego e para a economia”, percebi que afinal festa é um conceito muito mais abrangente pois parece referir-se não só ao que vem no dicionário, mas também ao enriquecimento rápido de algumas áreas profissionais.
Outro dos conceitos que se alterou foi o de “crime”. Também segundo a douta senhora ex-Ministra da Educação, “a existência de despesas e pagamentos ilegais” não constitui um crime mas sim “uma irregularidade tipificada”.
Vamos lá ver se eu absorvo todas estas alterações até 2015.
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