Frequentava eu o 12º ano na Escola Secundária de São do Estoril, quando fomos informados que já nesse ano letivo não iriam existir os exames finais. O ingresso na universidade dependeria de uma Prova Geral de Acesso (PGA) e de provas específicas a realizar nas universidades e elaboradas pelos professores universitários.
A notícia não me aqueceu nem arrefeceu. Era boa aluna, queria tirar um curso superior e nunca em nenhum momento da minha vida tinha duvidado de que tal não iria acontecer. A PGA foi feita, embora de forma pouco brilhante e o estudo para as específicas – uma de matemática 10º/12º ano e outra também de matemática só do 12º ano – ia de vento em popa.
Mas a revolta surgiu, pouco antes do final do ano letivo. Os professores do superior não queriam fazer as provas e aplicá-las. Afinal de contas a matéria alvo de exame correspondia ao ensino secundário. Ajuizar sobre a sua razão não é importante, mas perceber já que naquele tempo o desnorte era imenso pode ser relevante.
Nos meses que se seguiram ao final do ano letivo – Junho, Julho, Agosto, Setembro e talvez até Outubro – lá fui eu quase semanalmente à Faculdade de Ciências de Lisboa e ao Instituto Superior de Agronomia com a esperança de conseguir fazer os meus exames. Só que acabava sempre por ver as minhas expectativas goradas. Ora porque os professores faziam greve e não havia ninguém que pudesse fazer a vigilância, ora por os alunos mais politizados invadirem as salas de aula onde se realizavam as provas vigiadas pelos fura-greves.
Mas no fim, depois de muitos quilómetros palmilhados em marchas quase espontâneas contra não me lembro muito bem o quê, lá fiz os exames e lá entrei na Universidade. Fiz o primeiro semestre num mês ou dois, e tive de estudar toda a matéria não lecionada em regime de “auto-aprendizagem”.
Se me revoltei contra quem fazia greve? Claro que não. Eles lá teriam as suas razões. A mim, só me coube a tarefa de ser estudiosa e esperar pela resolução do problema de forma a que pudesse continuar com a minha vida.
Como foi moderadamente divulgado pela comunicação social, ontem durante a primeira Greve Geral deste ano (estou certa de que outras lhe sucederão) houve confrontos físicos entre forças policiais, jornalistas e manifestantes.
Um dia volvido sobre estes acontecimentos, a indignação geral parece não ter assumado de forma intensa aos nossos meios de comunicação social. Depois de alguma reflexão descobri a verdadeira razão por detrás desses acontecimentos violentos e concluí que seria de toda a utilidade “abafar” tudo o que aconteceu.
Passo a explicar melhor. Os acontecimentos de ontem são o reflexo de uma descoordenação entre os ministros da educação e da administração interna resultado da fuga de informação ocorrida nesse mesmo dia. De acordo com o jornal Público, a Escola Básica do 2º e 3º ciclos de Arazede estaria a aplicar uma técnica alternativa denominada Fosfenismo para melhorar os resultados escolares de alunos que manifestassem mais dificuldades. Esta metodologia consiste na aplicação de um conjunto de técnicas que implicam (pelo menos de forma parcial) a observação de luzes. Os fosfenos (manchas multicoloridas que persistem alguns minutos na obscuridade) que surgem após essa observação levam a que seja possível “transformar a energia luminosa em energia mental, aumentando as (…) capacidades de concentração, de memorização, de criatividade, bem como o sentido de iniciativa” do praticante.
Visto que o custo de cada lâmpada pode variar entre os 32€ e os 228€, o ministro Nuno Crato teria criado uma comissão para o desenvolvimento de materiais alternativos mais baratos e que tivessem a mesma funcionalidade. Com a revelação não autorizada do projecto, tudo se precipitou assistindo-se ontem à primeira tentativa de redução de custos para aplicação desta terapia. Na realidade, a carga policial sobre os manifestantes teve o intuito de fazer com que os agredidos ficassem “a ver estrelinhas” e com isso melhorassem as suas competências pessoais.
É confortante viver num país assim!
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