O meu filho nasceu de uma cesariana muito complicada. A possibilidade do desfecho culminar numa tragédia para mim, para ele ou para ambos era muito alta e por isso todo percurso que levou até esse momento foi penoso, cheio de altos e baixos, conflitos emocionais e medos impossíveis de descrever.
Mas foram nos dias de recuperação em meio hospitalar, que se seguiram ao parto do meu filho, que se desenrolaram os acontecimentos que desencadeiam hoje em mim um novo temor. Por esses dias, uma senhora muito jovem, de cabelo comprido, figura elegante, olhar vibrante e ausente, vai convalescer na enfermaria onde me encontrava. Por estar acamada na outra ponta do quarto, não pude entabular qualquer conversa com a jovem que intuia simpática (intuação totalmente errada e grandemente condicionada pela forte medicação analgésica que condicionava o meu pensar).
Chegada a hora das visitas, apercebi-me que afinal ela não seria portuguesa, que tinha dois filhos terríveis e que o marido era muito pouco civilizado. Nesse período em que a enfermaria se transformava com a animação das conversas cruzadas entre quem estava presente, se exultavam os bebés recém-nascidos e se tentavam encontrar pontos de contacto entre quem se desconhecia, eu sofria, sofria e muito. Os filhos da senhora, que agora já não me parecia tão bela (mudança de opinião despoletada pelo avistamento de alguns dentes de ouro), corriam ao longo do quarto, chocando frequentemente com a minha cama, provocando a contração muscular do meu corpo que acentuava as já muito intensas dores.
Depois de mais alguns episódios de desregramento total que incluíram o esposo a fumar em plena enfermaria, os miúdos a desenrolarem todo o papel higiénico do wc das grávidas/puérperas e outras coisas que me recuso a explicitar neste blog, lá foram eles expulsos tendo da enfermaria e confinados a um quarto individual.
Sete meses depois, aquilo que já parecia esquecido volta de novo a assombrar-me. A jovem magra que podia ter muito “bom aspecto” mas que parece “acabada”, os cabelos compridos ligeiramente desgrenhados, o sorriso forçado e inexpressivo parece reaparecer numa manequim fantástica – Sofia Aparício.
Pelos vistos, Sofia julga-se “uma princesa” e por isso adorna-se com um dente de ouro. Eu acho que mais cedo ou mais a tarde a vou ver a pedir num semáforo…
. Sofia Aparício pensa que ...
. Uma experiência quase cie...