A minha grande descoberta dos últimos dias está intimamente relacionado com a escrita e com a sua fantasia que deveria estar ausente quando de assuntos científicos se trata. Este achado chegou até mim na sequência de um grande escândalo na comunidade científica. Pelos vistos havia por aí mais de uma centena de artigos científicos, sobretudo na área da informática, que seriam tão falsos, mas tão falsos que não fariam qualquer sentido.
Esclarecimento vai e esclarecimento vem e descobre-se que afinal tão imaginativos textos teriam sido gerados por um programa de computador – SCIgen – desenvolvido no MIT, acho. Pois é, durante alguns anos vários autores, sobretudo chineses, foram povoando a literatura científica especializada com pérolas onde a trama de tão intricada era impossível de descortinar. Não se pense que ninguém controlava a situação. A aprovação destes textos é realizada por um sistema de pares, em que outros autores credíveis dão o seu aval positivo.
Não me cansei de experimentar com o SCIgen. Infelizmente o meu nível neste jogo não me permite outro tema que não seja o da informática. Já o Primeiro Ministro só pode ser um expert, tendo sido agora desmascarado pela líder do Bloco de Esquerda. Hoje em pleno Parlamento, Catarina Martins afirmou “o Governo tem um problema de palavra” e “a palavra do senhor Primeiro Ministro não vale nada”. Cá está, a aceção de que as palavras de Passos Coelho não fazem sentido quando conjugadas em frases. E, mais ainda, há uma linha condutora em todo os seus discursos que acredito que depois de devidamente analisada, nos indicará que palavras como austeridade, crise, confiança, mérito e portugueses terão sido malevolamente introduzidas no programa.
Agora só falta identificar os pares que autorizaram esta falsa oratória e nos obrigam a ouvir, em voz corretamente colocada, um chorrilho de ideias que se calhar, não são totalmente credíveis.
A única justificação que apresento para não escrever seguindo o novo Acordo Ortográfico é que “não quero escrever assim”. Não é que seja uma pessoa teimosa, mas quando não quero fazer uma coisa, não a faço e como não me apetece escrever de acordo com a nova grafia, não escrevo.
Sempre achei que esta transição teria de ser uma coisa natural para mim. Algo que surgiria sem grande esforço da minha parte. Já tinha sido assim com a condução, com a transição do escudo para o euro e até com a maternidade. Claro que começo a baixar a guarda, pois ao fim de mais 3 anos de vigência do Acordo estou já um pouco baralhada e por algumas vezes, desejei mesmo que esta transição pessoal já tivesse acontecido.
Tal posição sobre o assunto não se deve ao desconhecimento das novas regras. Eu sei que foram inseridas novas letras no alfabeto, que não se pronuncia o que não se lê, que há supressão de alguns hífens e de alguns acentos gráficos, etc., mas desconhecia que algumas palavras também passavam a apresentar novos significados.
É o caso da palavra “festa”. Para mim, e também para o dicionário da Porto Editora, o seu significado corresponde a “solenidade religiosa ou civil; comemoração pública periódica ou ocasional em honra de um acontecimento ou pessoa; reunião social para convívio e diversão, geralmente com música e dança; banquete, festim; demonstração pública de alegria.
Ontem, depois de ver a antiga Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmar numa comissão parlamentar “o programa da Parque Escolar foi uma festa para as escolas, para os alunos, para a arquitectura, para a engenharia, para o emprego e para a economia”, percebi que afinal festa é um conceito muito mais abrangente pois parece referir-se não só ao que vem no dicionário, mas também ao enriquecimento rápido de algumas áreas profissionais.
Outro dos conceitos que se alterou foi o de “crime”. Também segundo a douta senhora ex-Ministra da Educação, “a existência de despesas e pagamentos ilegais” não constitui um crime mas sim “uma irregularidade tipificada”.
Vamos lá ver se eu absorvo todas estas alterações até 2015.
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