Desde quinta-feira, que a minha expectativa no dia sábado era muito elevada; a conjunção de voltar a frequentar as aulas de Dança Oriental após alguns meses de ausência com a previsão de ondas para faro, faziam a minha ansiedade disparar. Há medida que o dia se ia aproximando a expectativa aumentava de forma geométrica. Quando a noite de sexta-feira chegou já não conseguia conter tanto entusiasmo; fui buscar os meus “lenços das medalhinhas”, coloquei o CD na aparelhagem e lá dancei duas ou três músicas.
Depois de uma noite pouco dormida e com algum desconforto físico, acordo no sábado ainda mais entusiasmada – o céu estava lindo e adivinha-se um dia de calor. Agarrei na prancha e fui para a praia pronta para apanhar umas ondas. À medida que me aproximava a expectativa aumentava; mas assim que lá cheguei aquilo que via não me agradava, ou melhor aquilo que eu não via – ondas nem uma. Mesmo assim entrei na água e fiquei lá mais de uma hora; tinha grandes planos para esse dia, podia não ter surfado mas mais para o final da tarde iria dançar!
Chegada a hora da aula de Dança Oriental e já depois de ter chegado ao local, recebo a má notícia de que a professora se encontrava num Encontro Islâmico e tudo iria ser adiado mais uma semana. Não queria acreditar! Voltei para casa e numa tentativa de remediar a situação voltei a pôr os “lenços das medalhinhas” e a fazer mais umas ondulações abdominais e uns camelos.
É pouco tempo depois que tomo conhecimento de uma das notícias do dia: a atribuição dos prémios IgNobel (prémios que “honram façanhas que primeiro nos fazem rir e depois pensar”). O correspondente à categoria de Economia tinha sido atribuído a um estudo sobre os “efeitos do ciclo ovulatório nas gorjetas das dançarinas de bar”. Esse estudo baseou-se nas gorjetas conseguidas por 18 strippers durante um período de 60 dias. Os resultados obtidos mostraram que as bailarinas obtêm um maior número de gorjetas durante o período da ovulação.
Voltando ao já referido sábado, de certeza que eu estaria em plena ovulação; o desconforto físico que sentia em conjunto com a vontade premente de executar uma dança associada à fertilidade feminina indiciavam isso mesmo. Mas o que fazer numa situação destas? Sair e angariar uma pequena maquia que tanto jeito me faria ou ficar em casa de forma a garantir que a minha reputação continuaria imaculada? Acabei por ficar em casa esperando que a vontade de dançar passasse.
A única coisa que lamento é que mais uma vez se verificou que Portugal não faz parte do panorama científico mundial, não por não termos “cérebros”, mas sim por estes insistirem em desvalorizar a experiência quotidiana e o conhecimento empírico. Viessem eles até ao Algarve e logo veríamos quem é que ganhava o IgNobel da Economia!