Se a maturidade me levou a alcançar novas etapas na minha vida, a maternidade que lhe sucedeu também muito tem contribuido para tal.
Depois de um período mais conturbado marcado pela adaptação a novas regras, horários e rotinas, recomecei lentamente a recuperar a minha vida pré-maternidade. Todos me avisam que tal seria impossível; jamais voltaria a ter tempo disponível para mim, os afazeres multiplicar-se-iam, o bebé necessitaria de mim em permanência e sobretudo os meus interesses pessoais iriam alterar-se radicalmente e jamais voltaria a ser a pessoa que fui durante os meus primeiros 40 anos de existência.
Quase quatro meses volvidos sobre o nascimento do meu filho e enquanto ele chora e grita na espreguiçadeira que está ao meu lado, reflicto sobre as reais mudanças que me envolvem e mais uma vez encontro paralelo com um mundo que desafia as supostas leis do real.
No mundo real, em tempo de crise, quem trabalha quer manter o seu emprego. O rendimento mensal é precioso e por isso há que ser profissional, trabalhar com afinco e prestar serviços de forma competente. Num mundo surreal, os estabelecimentos comerciais situados em localidades à beira-mar com esplanadas de sonho levam clientes a esperar mais de 2 horas para lhe serem servidos hamburgueres, servem refeições antes dos talheres estarem na mesa ou levam mais de 10 minutos a discutir qual será o troco correcto a devolver ao cliente.
No mundo real, a segurança é uma preocupação. Viver de modo tranquilo e sereno é um objectivo almejado por todos e as expectativas colocadas nas forças de segurança são enormes. Num mundo surreal, os polícias “micam” mães ocupadas a colocar a cadeira do bebé recém-nascido dentro do carro e quase multam uma mãe por transportar um bebé em cadeira homologada no banco da retaguarda virado para trás, em vez de o fazer no banco da frente (em carro com ABS ligado) e virado também para frente.
Num mundo real a liberdade é um bem precioso. A independência do ser humano catalisa um sem número de acções que causam satisfação e a sua ausência é por todos compreendida e alvo de constestação. Num mundo surreal, quem quer atestar um depósito de combustível tem de fornecer um cartão com a identificação à operadora de caixa do posto de abastecimento ou pedir a um acompanhante que permaneça junto da caixa enquanto abastece.
Esta noite vou olhar o céu com atenção; talvez encontre a segunda Lua de que Murakami fala.
. Coisas insólitas...ou com...
. Uma experiência quase cie...