No início dos anos 90, convivi, se é que se pode chamar assim, com o Gustavo Santos. Tinha umas aulas de hip-hop cujos meninos dos então Hexa, frequentavam de vez em quando. Na altura, aquele jovem, mais jovem do que eu, não se destacava por entre os demais. Não me recordo se era expressivo na sua dança, se o seu talento era ilimitado ou se se aprimorava no seu desempenho. Mais tarde reconheço-o no seu percurso mais mediático, como apresentador do Querido Mudei a Casa e como coach.
Graças ao ócio que volta e meia me invade e que me leva a contrariá-lo com as coisas mais estranhas que se possam imaginar, hoje arrisquei pela primeira vez na visualização de um dos seus vídeos. Sob o tema “Quanto esperarias pelo amor da tua vida?”, o autor faz afirmações fantásticas e até aceitáveis como “esperar não dá em nada” ou “o amor da minha vida sou eu” e outras que se revelaram como um admirável mundo novo. Saber que a mente se chama assim porque nos engana a todo o instante ou que o agora não é o presente, foi demais para esta tarde descontraída. Sob pena de terminar o meu dia na ala psiquiátrica do Hospital de Faro, rapidamente deixei de me concentrar nas suas palavras e passei a focar-me na sua expressão corporal.
Pois é, ao longo do seu discurso, Gustavo gesticula, faz semicírculos no ar com os dedos, dá golpes de karaté laterais, apalpa maminhas imaginárias e até saca de duas pistolas e atinge a entrevistadora. Tenho tanta pena de não ter aproveitado a hipótese de ter visto de perto a forma como dançava.
Acho que ao longo da minha vida já li todos os géneros possíveis e imaginários. Desde o considerado intelectualmente perfeito aos best-sellers pejados de sexo disfarçado de erotismo, passando pela fantasia dos hobbit’s ou de monstros alados. Uns perduraram na minha memória e outros nem por isso. Alguns destes livros ainda se mantêm cá em casa (apesar da manifesta falta de espaço) e outros já foram depositados em estantes no restaurante do Pingo Doce, na esperança que alguém os pudesse voltar a valorizar.
Sempre considerei que os livros são infinitamente melhores dos que as respetivas adaptações cinematográficas. Afinal quando se lê um livro, a abordagem cinematográfica é totalmente moldada pelas nossas emoções, ânsias e expectativas. Ler um livro é o nosso filme, e pronto! Mas agora depois de alguma reflexão consigo contradizer o meu anterior pensamento. Com a morte de Sue Townsend, a minha memória de Adrian Mole vai para a série e não para o livro, apesar da leitura dos vários volumes não se ter escapado da minha vida.
Aliás, a minha memória de Adrian Mole nem sequer se relaciona com a imagem atual de Stephen Mangan que supostamente foi seu intérprete. Disto tudo advém uma grande preocupação. Estarei eu a ficar velha??!!! Faltará já pouco tempo para começar a balbuciar expressões como “no meu tempo” ou “quando eu era nova”? Ou pior, estarei eu prestes a entabular conversas com qualquer estranho com que me cruze em salas de espera ou transportes públicos?
Temo que sim. É que ontem, enquanto esperava no dentista, só me apetecia meter conversa com o velhote que estava sentado na minha frente.
Uma telenovela é uma série de ficção desenvolvida especialmente para televisão onde se projetam vidas de fantasia com inspiração real que agradam a muitos. Eu também já integrei este grupo, embora desde há uns anos a esta parte que não queira nada com esta arte, não por a considerar menor mas porque prefiro outro tipo de seriado.
Neste tipo de produto televisivo as personagens estereotipadas são especialmente idealizadas para prender o espectador ao televisor, sobretudo no período noturno, depois do noticiário da hora de jantar, ou melhor das “hora de jantar, lavar a loiça e arrumar a cozinha”. O romance, o sexo e até a violência surgem episódio após episódio e se tudo correr bem o mistério que prende qualquer um de nós irá levar-nos lentamente até ao final sem que de misterioso nada aconteça.
Claro que, com o evoluir dos tempos, também estas figuras fictícias se vão adaptando à realidade social, surgindo novos papéis que antigamente seriam impossíveis de imaginar. Refiro o caso das personagens homossexuais; neste momento não há telenovela, série ou filme em que pelo menos não surja um beijinho gay. Também os cenários, o guarda-roupa das estrelas são escrutinados ao máximo e transformados em poderosas armas de marketing geradoras de dinheiro e influência.
Já as histórias da vida real sem pinga de emoção ou segredo começam a ser deixadas para trás. Não interessa se a dívida cresce, se a economia já não está em recessão ou se o Presidente da República promulga os diplomas ou não. Agora o que está a dar é a colagem ao dia a dia. Começou-se pela cena gay – Portas e Assunção Esteves serão homossexuais (???!!! ver foto) – e agora prossegue-se com uma versão pimba do Ministério das Finanças e a sua Fatura da Sorte (desde já recomendo Rita Ferro Rodrigues para a apresentação do sorteio).
Eu enquanto consumidora de produtos televisivos gostaria que fossem um pouco mais longe, para o bem das audiências, claro. E aqui tiro o meu chapéu ao GNR stripper; esse sim, tem um horizonte abrangente e para mim atuava já em horário nobre!
Se em 2009 pretendia que o meu Carnaval fosse um misto de consciencialização política e revivalismo, cinco anos depois já nada disto é importante. Neste ano de 2014, embebida na real essência da maternidade que me vai obrigando a aderir a todo o tipo de rito, comemoração ou mesmo cerimónias esquisitas que todos me garantem estarem relacionadas com a educação de um pequeno ser de 2 anos, lá tive de me preocupar com o disfarce do petiz.
Não sendo eu uma pessoa que tenha pachorra para procurar máscaras, pensar em disfarces ou improvisar fantasias decidi rapidamente que o melhor era o puto ir mascarado de Homem-Aranha pois neste momento é tudo aquilo em que ele pensa. Face à escassez de fatos desta personagem para crianças pequenas associado ao elevado custo que apresentavam, facilmente a estratégia se modificou em prol do objetivo “compra-se qualquer coisa desde que seja barata e lhe sirva, e depois logo se vê”.
Foi com isto em mente que lá apareceu em casa um fato perfeito do Bob, O Construtor, adquirindo a menos de 10 euros e no tamanho adequado para quem ainda não veste o small de criança chinesa. Conversa vai e conversa vem, e começa a instalar-se o receio (mais tarde confirmado) de que o petiz não se queira mascarar de Bob, O Construtor, personagem animada totalmente ausente da programação dos canais Panda ou Disney. Como de pensamento científico estou repleta, a abordagem seguida, próxima da modelagem, resultou num sucesso pleno originando uma satisfação total aos pais aqui de casa.
O método incluiu uma visita a um espaço comercial de bricolage a fim de envolver o petiz na compra de um capacete de proteção (que iria complementar o disfarce), visionamento de horas seguidas de animações do Bob, O Construtor e cantorias sucessivas de “Eu sou o Bob, O Construtor / Eu sou o Bob, trabalhador”. Em apenas 48 horas de trabalho intensivo e exaustivo por parte desta mãe de primeira e única viagem, lá o puto passou do “nãoooooooo” quando via o fato à recusa total de o despir, nem que fosse para mudar de fralda.
É por isso que compreendo o que Cavaco Silva estará a pensar neste momento (e que o levou a proibir a divulgação do cartaz da imagem). Também ele, pai e avó, deve ter usado estratégias semelhantes a estas para, não só encaminhar aqueles quem educou, mas também para liderar todos aqueles que dele dependeram ou dependem.
Ele sabe que se o virem, caricaturado em cima de um burro personificado de Zé Povinho que está a ser aliciado por uma cenoura, eu e todos os outros cidadãos deste Portugal acabaremos por considerar que o senhor afinal se dedica à agricultura e à pecuária e que não percebe nada de política.
A minha última série de eleição é sobre política. Deixei para trás os zombies, os cenários pós-apocalípticos e tudo o que tem a ver com universo de fantasia que está tão em voga. Agora centro-me na ambição, trocas de favores, corrupção, manipulação e tudo o mais que possam imaginar. Tudo por causa de Kevin Spacey e da sua parceira de série, Robin Wright.
Nesta House of Cards, também a preferida de Obama, o casal Underwood, consegue ascender na escala social e política dos Estados Unidos à custa de muito ardil, tráfico de influências, inverdades e até de um ou outro homicídio. Os atores estão perfeitos nas suas interpretações, o argumento prende episódio após episódio e o retrato de Washington parece perfeito.
Apesar de ser transmitida em Portugal de forma semanal por um canal de cabo, ou pelo menos foi no passado, nos Estados Unidos nunca passou em televisão. Esta é uma série da Netflix, um site especializado em disponibilizar on-line séries, filmes e outros conteúdos. Esta foi mesmo a primeira série a ser disponibilizada por temporada. A primeira totalmente revelada no dia 1 de Fevereiro de 2013 e a segunda no dia de São Valentim deste ano. Foi uma aposta ganha. É muito melhor ver uma temporada toda de seguida, do que ansiar por um mísero episódio semanal.
Claro que eu tenho o problema da ansiedade…não da ansiedade da espera do novo episódio, mas sim de ver tão rápido todos os episódios e de ela terminar num instante e não poder partilhar mais o meu dia com o Frank ou a Claire Underwood.
Curiosamente, por cá ninguém tenta arriscar numa solução “à Netflix”. Eu gostaria muito de ver o governo anunciar o que vai cortar e restruturar assim de uma só vez. Estou farta de ouvir falar em medidas a aplicar, em consensos a encontrar e em austeridade a intensificar em parcelas trimestrais. E depois lá volta a ansiedade, agora não por a austeridade em breve sair da minha vida, mas por se prolongar sem fim à vista.
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